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No pasarán!



Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia


Se os democratas não se mobilizarem em defesa do Estado Democrático de Direito, "o Brasil será transformado num pária no mundo", escreve Florestan Fernandes Jr., do Jornalistas pela Democracia. Quem defende o obscurantismo, diz ele, teme que seus filhos sintam-se "inclinados a pensar e olhar a realidade pelas lentes daqueles que tentam combater, calando-os"
18 de outubro de 2019, 13:14 h Atualizado em 18 de outubro de 2019, 14:05
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Por Florestan Fernandes Jr., do Jornalistas pela Democracia

É chegada a hora de os democratas agirem enquanto há tempo. Se não se mobilizarem já em defesa do Estado Democrático de Direito, em breve o Brasil será transformado num pária no mundo. Uma enorme republiqueta povoada por miseráveis disputando um prato de comida, e por uma elite perversa e ignorante desprovida de qualquer compromisso com os principio básicos de humanidade e cidadania. Dados do IBGE comprovam a pauperização do país. Hoje mais de 100 milhões de brasileiros estão vivendo com apenas R$13,76 por dia. O desemprego é enorme, o fosso da desigualdade não para de aumentar. 

A pobreza e a fome estão por todos os lados. E nessa crise profunda o assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da Republica, general Eduardo Villas Bôas ameaçou atropelar a Constituição, caso o Supremo faça valer a Constituição. Essa ameaça é inadmissível. Como é inadmissível a relação da família Bolsonaro com milicianos do Rio de Janeiro. Inadmissível também são os cortes na Cultura e o ataque à atriz Fernanda Montenegro feito pelo diretor da Funarte, o bolsonarista Roberto Alvim. Inadmissível, general, é preservar os militares da reforma previdenciária que penaliza os trabalhadores mais pobres. Inadmissível é o contingenciamento de recursos da Saúde e da Educação. Inadmissível é a imposição de ideologias e práticas incompatíveis com o bom ensino de nossos jovens, com o fim das disciplinas de Ciências Humanas do currículo do Ensino Médio, que garantiriam uma visão mais ampla da realidade, da diversidade de comportamentos e culturas e dos processos sociais que marcaram a história da Humanidade. 

Mais do que nunca é preciso impedir o avanço do fascismo em todas as suas frentes.  

No dia 22 de outubro, em Belo Horizonte, professores, estudantes e pais e mães de alunos farão a parte deles em um ato pela liberdade de ensino nos colégios Santo Agostinho e Loyola.  As duas instituições, a pedido de pais de extrema-direita, anularam recentemente uma prova de português que utilizou um texto do ator e escritor Gregório Duvivier. No texto, Gregório fazia criticas ao afrouxamento das políticas de proteção às populações indígenas e quilombolas; à liberação de agrotóxicos considerados perigosos em muitos países do mundo e à contestação de dados científicos sobre o desmatamento na Amazônia.   

Bom lembrar que, em novembro do ano passado, cerca de 500 pais assinaram petição contra ação do Ministério Público de Minas Gerais, questionando a suposta inclusão de temas de ideologia de gênero no currículo das duas escolas confessionais que pertencem aos jesuítas,  mesma congregação do Papa Francisco. 

O que salta aos olhos diante desse levante do obscurantismo é a própria insegurança daqueles que defendem tal visão estreita e fundamentalista do mundo. Estivessem realmente convictos da força de seus argumentos, não se importariam em contrapô-los a outras visões de mundo diversas. Temem, na verdade, que seus filhos sintam-se muito mais inclinados a pensar e olhar a realidade pelas lentes daqueles que tentam combater, calando-os. É a fraqueza que se esconde e se escuda na truculência. No pasarán!

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