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"Temos a arma mais forte e eles têm medo disso", aponta Allan Deberton

Atuando enquanto produtor, diretor, roteirista e representante de resistência, o cineasta russano foi um dos nomes do audiovisual cearense que se destacou em 2019Por 
FORTALEZA, CE, BRASIL,  28-08-2019: Alan Deberton, cineasta, para o caderno Aguanambi 282 do jornal O Povo. (Foto: Alex Gomes/O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 28-08-2019: Alan Deberton, cineasta, para o caderno Aguanambi 282 do jornal O Povo. (Foto: Alex Gomes/O Povo)
Ao findar de 12 meses, o que fica? E de um ano como 2019, o que fica? Que memórias, que registros? Quais funcionarão como motores de inspiração para o que virá em 2020? E o que virá? Entre a força da construção coletiva e a força da destruição cega, o setor do audiovisual viveu em 2019 um ano que, aposte-se, será referencial para quem, daqui a décadas, quiser entender o cenário dos anos 2010. No Ceará, entre tantos nomes que se destacaram nas lidas de direção, roteiro, atuação, produção, pesquisa, reflexão, difusão e diversas outras áreas do setor, o cineasta Allan Deberton viveu nestes meses passados momentos que foram intimamente relacionados com questões cruciais da produção audiovisual do ano - do sucesso do longa de estreia Pacarrete, que arrebatou Gramado, Xangai e o Cine Ceará, e representou muito do momento do cinema no Estado, ao controle exercido pelo governo federal, que procurou "abortar" a realização da série Transversais, produzida por Allan e que contará a história de cinco pessoas trans cearenses. Com a proposta de lançar um olhar para o que foi e pensar no que virá, o Vida&Arte convidou o cineasta a dialogar com algumas frases proferidas ao longo de 2019 que dizem respeito ao ano profissional dele.
FRASE: "(Pacarrete) É um projeto antigo movido a afetos. Quando fiz meu primeiro curta, Doce de Coco (2010), estando a Marcélia Cartaxo em Russas, gravando comigo, falei para ela sobre a Pacarrete e perguntei se ela faria a personagem. Sonhamos com isso juntos desde então", Allan Deberton em 05/06/2019
DIÁLOGO: Marcélia é como parte da minha família, pensamos muitas coisas parecidas, torcemos muito um pelo outro. Além disso, ela é uma grande artista, exigente com ela mesma, tenta sempre se superar. Eu quero estar perto de pessoas assim, que superem obstáculos. Se manter artista no Brasil é uma grande prova, não é? Ela me inspira e quero continuar sim, trabalhando com ela.
FRASE: "Começamos a filmar o longa em Fortaleza e depois seguimos para Russas, onde foi filmado 95% do filme. Rodamos durante quatro semanas com uma equipe envolvida de quase 100 pessoas", Allan Deberton em 05/06/2019
DIÁLOGO: Gosto da natureza do interior. Do cheiro, de sentir os pés no chão de areia. Dos sons, dos silêncios, das pessoas e dos tempos. Morei metade da minha vida no interior, então parte do que sou e de como penso tem muito a ver com este espaço. É um lugar que eu quero sempre pensar, ir e voltar, levar coisas e trazer coisas. Há tanto a ser feito no interior... Gosto de continuar fazendo parte.
FRASE: "A seleção de Pacarrete representa a excelente fase de nosso cinema, maduro e diverso — e universal — pois nossas histórias estão conseguindo chegar longe. Nosso cinema está pulsando forte ao descompasso que caem os investimentos da cultura no Brasil e no Ceará", Allan Deberton sobre a seleção do filme para o Festival de Xangai em 05/06/2019
DIÁLOGO: Eu tenho muito orgulho de nosso cinema, sendo feito por nós, artistas diversos, de formações distintas e também visões distintas. Nosso cinema multifacetado está sendo reconhecido mundo afora, contribuindo com a representação da diversidade cultural brasileira, no qual fazemos parte. São vários os cursos de formação, então a cada instante um novo realizador ou realizadora nos surpreende, com excelentes filmes. Vale muito a pena investir no cinema. Desejo que não só sejam reais os investimentos do setor público e também que o setor privado entre, com mais força, em nosso setor, pois existe muito espaço para valorização de marcas.
FRASE: "Um filme chama Transversais. Olha o tema: 'Sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará'. Conseguimos abortar essa missão", presidente Jair Bolsonaro em live no dia 15/08/2019
DIÁLOGO: Eu lamento muito este desgoverno que opera com a desinformação, com a censura, com o medo, que mata no cansaço. Está fazendo a classe artística sofrer, quando ela deveria ser engrandecida e incentivada. Vejo ser plantado o ódio e o descrédito para com um setor cuja história sempre foi a da resistência. E quando se junta o propósito deles de menosprezar a cultura com o de silenciar os negros, os professores, os homossexuais? Por que tanto medo da diversidade e da cultura? Nossa arma é o amor. Parece que temos a arma mais forte e, penso, eles têm medo disso.
FRASE: "A Secult não pactua com qualquer tipo de manifestação discriminatória - venha de onde vier - que afronte contra a livre expressão artística e cultural de todos os grupos sociais, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação, conforme determina o item IV do Artigo 3º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que trata dos direitos fundamentais", secretário da Cultura do Ceará Fabiano Piúba em nota de solidariedade divulgada em 18/08/2019
DIÁLOGO: É muito bom se sentir acolhido por quem nos representa. Que o Governo do Ceará seja exemplo de Governança moderna, engajada e em benefício de todos e todas, para crescermos com pensamento livre e vivermos com saúde, prosperidade, arte e amor. Nosso Ceará é visto como um estado feliz, colorido, receptivo e rico.
FRASE: "A gente estava ansioso pela recepção do público. Eu e a equipe sabíamos que o filme era forte, importante para nós, mas a gente não tinha tido experiência de contato com público na nossa terra", Allan Deberton em 27/08/2019 sobre a exibição de Pacarrete no Festival de Gramado
DIÁLOGO: Muito bom ver nosso Ceará representado em algo tão grande. E melhor ainda quando saímos de lá com orgulho de nossos feitos, de ser cearense, de termos conseguido de nosso jeito, da nossa forma. Então tudo é possível.
FRASE: "Colocaram o artista como um inimigo da sociedade, muito através da demonização da Lei Rouanet e, com isso, uma extensão para o cinema. (...) Hoje há uma falta de informação sobre o que a classe artística representa em termos de economia, sendo que o audiovisual se sustenta através de contribuição própria", Allan Deberton em 02/09/19
DIÁLOGO: Um viva a Fernanda Montenegro! Mais Pacarretes, mais Fernandas e menos destas pessoas preconceituosas e arrogantes. Fazem falta as pessoas que pensam no conjunto do povo.
FRASE: "Um artista nunca deve deixar os palcos", Pacarrete
DIÁLOGO: Agora mais do que nunca! O grito ainda precisa ser forte.
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O POVO 

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