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A cidade

Por Paulo Eduardo Mendes - Jornalista

Estacionamos numa bucólica cidade do interior e ali fizemos um pouso para uma semana de lazer. Brincar, comer, sonhar e acordar, renovado e de alma pura. Pela manhã, um galo cantou "encabulado" sem executar seu conto completo... Parecia engasgado! Cantou ou fez que cantava durante um breve tempo. Nenhum outro galo respondeu! Daí a pouco surge um arremedo de canto só de uma nota "có" e nada mais! Os galos recolhidos com medo de cantar. Pode haver constatação mais óbvia de que está tudo mudado? A falta de um "cocoricó" para nos despertar talvez seja um prenuncio da vitória do celular com "Google" trazendo a sonorização que se deseja para um acordar "diferente" e logo segurar o celular para as pesquisas de campo! Dedos hábeis digitam em teclado minúsculo as mensagens que não falam, mas dão o recado direitinho. Há romance nesta forma do viver eletrônico? Parece que sim. Os namorados, casais de todo tipo, têm a comunicação agora nas pontas dos dedos. Aqui e acolá um sorriso enquanto o outro joga um "carteado".

Quanta diferença no mundo de hoje. Se não entramos no "jogo", ficamos totalmente de fora da convivência com os mais jovens. A cidade já não tem encantos. Os sons naturais estão transformados em músicas invasivas de estridência aberrante. Há exceções. No meio de tanta tecnologia, pedimos a uma criança que tentasse captar o canto de Yma Sumac, a garota espantada disse: Yma de quê? - Yma Sumac, respondemos. Ela encontrou o ponto mágico da cantora Inca. Foi um espanto geral dos que nos cercavam. Retiramo-nos de mansinho e, no outro dia, encontramos a turminha jovem escutando Yma Sumac. A princesa Inca produziu o milagre da sensibilização e descobrimos que a educação ainda existe e é o caminho para vencer obstáculos! Nem tudo está perdido.

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