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A literatura e as enchentes em BH

Ricardo Almeida
CEO do Clube de Autores, a maior plataforma de autopublicação  da América Latina

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Foto Bhazcobr
Ao verificar as nossas publicações recentemente, foi possível descobrir como o drama das fortes chuvas registradas em Belo Horizonte neste início de ano estava muito mais perto da nossa realidade do que se poderia imaginar. Um livro lançado pela plataforma Clube de Autores tem revelado, há alguns anos, como o processo de canalização dos rios existentes na capital mineira tem piorado a qualidade de vida da comunidade local. Todo esse contexto prova como a literatura se torna importante aliada para debater problemas sociais e, nesse caso, estruturais de uma cidade, antes mesmo de acontecer.
 
Aliás, o assunto já se encontrava próximo da gente bem antes dos temporais. Em 2017, a plataforma publicou a primeira edição da obra Rios invisíveis da metrópole mineira, escrita pelo geógrafo Alessandro Borsagli. A publicação é resultado de cinco anos de pesquisa sobre os rios e córregos de Belo Horizonte. Mostra a história do município a partir da destruição de seus elementos naturais que poderiam atenuar a situação das enchentes hoje. Além disso, detalha as mudanças da paisagem urbana com o passar do tempo.
 
É muito importante lembrar que toda essa situação é trazida por este livro muito antes de a capital mineira ter registrado o seu janeiro mais chuvoso da história. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Belo Horizonte registrou 935,2 milímetros de chuva no primeiro mês de 2020. O total representa quase o triplo da média esperada para o período, que é de 329,1 milímetros. Para se ter uma ideia, é como se tivesse chovido quase mil litros em cada metro quadrado da cidade. Além das enchentes, os diversos temporais causaram deslizamentos,          destruição de ruas, avenidas e, lamentavelmente, a morte de 13 pessoas.
 
O livro relata que as intervenções nos rios começaram desde quando a capital mineira foi desenhada no papel, pois a cidade foi uma das primeiras a serem planejadas no país. Começou a ser erguida em 1894, num local chamado Arraial do Curral Del Rey. Nesse lugar, o principal curso d'água era o Ribeirão Arrudas. O projeto levantado até 1897 previa apenas quarteirões dentro do perímetro da Avenida do Contorno.
 
Para isso, o Arrudas foi canalizado reto e sem curvas. Para piorar a situação, consta na publicação que os quarteirões foram construídos em cima dos outros córregos próximos da Avenida do Contorno. A situação se agravou em 1920, quando todos esses leitos existentes na área foram de fato cobertos. Ou seja, a população passa por esses cursos d'água sem mesmo saber.
 
A obra do geógrafo destaca, ainda, que as maiores intervenções no tocante à canalização ocorreram entre 1966 e 1973 nos rios fora da Avenida do Contorno. Nas comparações feitas pelo autor, ficou comprovado que nem mesmo essas obras foram suficientes para resolver o pro- blema das enchentes. Muito pelo contrário, essa incidência foi cada vez maior com o passar do tempo.
 
Nessa pesquisa, o autor informa que, em 1915, o alagamento ocorreu no córrego da Serra e no Arrudas. Em1948, houve ocorrências do gênero no próprio ribeirão e em mais seis pontos. Já em 1962, a enchente foi gigantesca, novamente no Arrudas e em cinco outros locais. Quinze anos mais tarde (1977), isso aconteceu no ribeirão novamente e em nove localidades diferentes.
 
Diante de todo esse alerta contido no livro, fica comprovado que a literatura pode até mesmo prever possíveis problemas, como o registrado no início deste ano. Se as autoridades dessem a  de- vida importância para as publicações, certamente o drama poderia ter sido numa proporção bem menor. Fica a dica para uma próxima vez. 

Via Estado de minas

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