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Aniversários culturais de 2020

Beethoven, Rafael, Fellini e Gustav Mahler são os destaques da cultura neste ano
Neste ano, o mundo comemora os 250 anos do nascimento do grande músico Ludwig van Beethoven
Neste ano, o mundo comemora os 250 anos do nascimento do grande músico Ludwig van Beethoven (Wikimedia)
Lev Chaim*
Ao escrever o seguinte nome: Ludwig van Beethoven, que reações e pensamentos estarei provocando nos meus leitores? Provavelmente, alguns sorrirão, relembrando suas memórias musicais, e outros reajam pensando: “Ah! Não. Esse aí não, eu não gosto de música clássica, não gosto de piano, não gosto de orquestra”. A minha proposta para os que não apreciam Beethoven é que experimentem algo novo, algo que talvez não tenham aprendido a apreciar. Para os que gostam, melhor ainda.
Ao meu ver, Beethoven é uma caixinha de surpresas. Neste ano, o mundo comemora os 250 anos de nascimento deste, que para mim é um fabuloso compositor clássico, nascido na Alemanha, que nos deu de presente suas belas sonatas e outras composições de arrepiar o corpo inteiro.
Em Bonn, cidade em que ele nasceu em 1770, será inaugurado um dos maiores eventos de todo o mundo sobre o compositor: sua casa de nascimento, que já era um museu, foi rigorosamente ampliada e estará à espera dos curiosos sobre este gênio da música universal. Na Holanda, eles estarão promovendo vários concertos e o ápice ocorrerá em Viena, onde o compositor morou e estudou, quando se encontrou com o também grande Wolfgang Amadeus Mozart. Sim, eles se encontraram e se admiravam.  
Para comemorar os 250 anos de nascimento de Beethoven, não só vamos ouvir bastante suas composições, entre elas a já legendária Quinta sinfonia que muitos já decoraram o refrão, “Ta-ta-ta-taaa”, como também poderemos ler a reedição da biografia de Beethoven, escrita há alguns anos pelo musicólogo e dirigente, o belga Jan Caeyers, lançada pela primeira vez em 2009. Ele nos conta que Beethoven nasceu na Alemanha, mas seus ancestrais eram belgas, da região de Flandres, onde um de seus tataravôs era padeiro. Quando li isto, pensei comigo mesmo: nem tudo está no DNA, mas depende muito do esforço e interesse de cada um, não é mesmo?
Caeyers relata também que o jovem Beethoven não era o monstro de pessoa que parecia ser, mas que era um jovem amável, educado, interessado nos outros, tudo isto quando não estava compondo ou estudando música. E também que era um hábil mestre em misturar razão e emoção em suas composições, sem jamais deixar que uma estragasse a outra, mas se complementassem.
Já os italianos estão preocupados em montar uma grande exibição do mestre imortal da Renascença – o pintor Rafael, no Palácio Quirinal, o palácio presidencial de Roma, próximo à igreja de San Pietro e Víncola, onde está o famoso Moisés de Miguel Ángel. Rafael faleceu há 500 anos, com apenas 37 anos. Ali no Quirinal, estarão reunidas as obras do mestre renascentista de todos os lugares da Itália, inclusive a sua famosa Madonna e a cadeira, pintada por volta de 1514. Na Europa inteira e no resto do mundo, os 500 anos da morte de Rafael serão lembrados.  
Permanecendo ainda na Itália, temos o aniversário dos 100 anos de nascimento de seu grande diretor cinematográfico, Frederico Fellini (1920-1993). Para este evento, os italianos estão preparando uma grande exposição sobre o mestre do cinema que também será levada para várias partes do mundo. O título oficial da mostra é: Fellini 100: gênio imortal. A mostra. Com roupas de seus filmes, fotos e cenas de suas películas barrocas que o fizeram famoso no mundo inteiro, tais como Noites de Calábria (1957), La Doce Vita (1960), 8 ½ (1963) e Amarcord(1973), onde ele descreve a sua juventude na cidade italiana de Rimini, na costa do Mar Adriático.
Por último vamos falar de um grande compositor Gustav Mahler, nascido na República Tchéca mas crescido em Viena, na Áustria. Há 100 anos, a Sala de Concertos de Amsterdã realizava o seu festival com composições de Mahler. Ele já havia falecido, mas a sua esposa, Alma Mahler, esteve presente na abertura do evento. Depois tivemos um segundo festival do compositor e neste ano, 100 anos depois do primeiro festival, a mesma sala de concertos da capital holandesa estará homenageando novamente este grande compositor clássico, que inspirou tantos filmes e compositores de todo o mundo.   
Cultura atrai cultura e faz as pessoas mais felizes. Para ilustrar o que acabo de afirmar, quero falar da filha de Mahler, Anna Mahler, escultora que morava em Viena e que dava grandes sarais culturais para expoentes das artes de vários países. Foi na casa dela, por exemplo, que o escritor Elias Canetti lia os seus manuscritos para uma seleta plateia de intelectuais e editores, antes de ser impresso. Para quem ainda não conhece Elias Canetti, ele foi o vencedor do Nobel de Literatura em 1981. Com ensaios, romances, peças teatrais e biografia, Canetti conquistou o meu coração com o seu romance Auto-de-fée a sua magnífica biografia O jogo dos olhos, em que ele relata a sua vida cultural de Viena, na casa de Anna Mahler, seus encontros com outros expoentes da literatura como Thomas Mann, Bertolt Brecht, Robert Musil entre tantos outros. Em o Jogo dos olhos, Canetti não só descreve tudo isto, como também mostra a sua preocupação para com a ascensão de Hitler ao poder, na Alemanha. E foi também a literatura de Elias Canetti quem consolou o poeta Carlos Drummond de Andrade, após o falecimento de sua filha.
Como pode ver meu caro leitor, uma coisa leva a outra e a gente sempre aprende como alegrar a alma! Concorda comigo?
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras, para o Domtotal.

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