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Atleta com paralisia cerebral passa em Filosofia na UFC

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O caminhar mais vagaroso não lhe impediu de chegar ao destino que buscava e, com passos lentos, mas seguros, Gabriel Victor, 18 anos, conquistou sua aprovação para o curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará (UFC). O morador do bairro Bom Jardim, em Fortaleza, e ex-aluno da rede estadual, na Escola de Ensino Médio (EEM) Santo Amaro, ele precisou conciliar atividades esportivas e estudos de pré-vestibular para atingir seu objetivo.
Agora, o jovem, que também é nadador paratleta da Associação D'eficiência Superando Limites (Adesul), mal consegue controlar a animação para entrar no universo acadêmico. “Eu espero fazer muitos amigos, conhecer gente nova e, principalmente, agregar mais conhecimento para mim, para que eu possa me desenvolver profissionalmente e mentalmente”, pontua, com sorriso largo no rosto. 
A rotina era intensa: acordava todos os dias às 5h30 para estar na classe pontualmente às 7h. Durante a manhã, até as 11h40, assistia às aulas, tendo menos de duas horas antes de se arrumar para chegar no seu treinamento paratlético de natação, que durava das 13h15 às 15h30. 
Assim que chegava em casa, Victor dormia por cinco ou seis horas, mas logo acordava para voltar a estudar. “Teve dia que eu estudei até realmente às 5h da manhã, até a hora de ir para o colégio”, coloca, relembrando o esforço em conciliar todas suas atividades. 
Em 2019, no período próximo ao Enem, Gabriel começou a frequentar um curso preparatório extra-hora aula. “Eu ia do treino para o cursinho, que era durante o tempo que eu dormia, então as horas que eu tinha para descansar, troquei para poder estudar”, acrescenta. 

Superação
O esporte está na vida de Gabriel desde seus 11 anos de idade. A natação começou como uma forma de fisioterapia para o estudante que possui paralisia cerebral desde o nascimento. A chance de atuar como profissional veio anos depois, quando o Comitê Brasileiro Paraolímpico começou um programa de busca de novos talentos, e a coordenação do projeto recebeu o nome de Gabriel como indicação. “Depois de alguns anos que apareceu a oportunidade de nadar como profissão, vamos dizer assim, e eu acabei entrando e estou até hoje nesse negócio”, conta. 
A superação sempre esteve presente na vida de Gabriel. Desde a peregrinação nos hospitais na infância, devido a sua realidade com paralisia cerebral, até a sua rotina apertada de atleta paraolímpico e pré-vestibulando. Agora o desafio do atleta é conciliar a vida de estudante universitário com ser atleta na categoria adulto. “Eu acho que não vai mudar muita coisa não, só os treinos que vão ficar mais puxados”, disse confiante em enfrentar mais essa etapa.  
Quando questionado sobre qual escolha faria, entre esporte e universidade, caso a rotina se torna difícil de manter, ele declarou. “Eu escolheria a universidade, com certeza, porque mesmo o esporte sendo uma forma muito boa de viver, não é um ambiente muito bom para se trabalhar aqui no país, porque não tem muitas oportunidades, não tem muito reconhecimento. Então, é mais importante focar na formação escolar, acadêmico, para você poder ter um bom emprego, para poder se sustentar e continuar dando um suporte extra ao esporte”.

Diário do Nordeste 

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