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Por que mentimos para nós mesmos?

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Quem é prejudicado pelas mentiras? Bem, é claro que Deus se ofende, como pode ser comprovado no mandamento ” não prestar falso testemunho” (Êxodo 20,16).Também está claro que o próximo é prejudicado pelas mentiras, como eloquentemente expresso pelo ensaísta Michel de Montaigne:
“Mentir é realmente um vício maldito. Somos homens, e só temos relações entre si pela fala. Se reconhecermos o horror e a gravidade de uma mentira, deveríamos puni-la mais justificadamente com fogo do que qualquer outro crime.”
Uma vítima menos frequente da mentira é a nossa própria personalidade. Porém, Dostoiévski, em “Os irmãos Karamázov” faz um relato acerca do mal que faremos à nossa alma, caso adquiramos o hábito de mentir para nós mesmos:
“O homem que mente para si mesmo e ouve sua própria mentira chega a tal ponto que ele não consegue distinguir a verdade dentro dele ou ao seu redor, e, assim perde todo o respeito por si e pelos outros. E, sem respeito, ele deixa de amar para se ocupar e se distrair. Sem amor, abre caminho para paixões e prazeres grosseiros e afunda na bestialidade em seus vícios (…). O homem que mente para si mesmo pode ser mais facilmente ofendido do que qualquer um. Você sabe que, às vezes, é muito agradável se ofender, não é? Um homem pode saber que ninguém o insultou, mas que ele inventou o insulto para si mesmo, mentiu e exagerou para torná-lo pitoresco (…), mas será o primeiro a se ofender, e se deleitará com seu ressentimento até sentir um grande prazer nisso, e assim passar à vingança genuína.”
Esta passagem é, na verdade, uma descrição de uma cadeia de eventos que é forjada (sem trocadilhos) quando alguém costuma mentir para si mesmo:
1. A verdade não pode ser encontrada;
2. Na verdade ausente, a bondade não pode ser encontrada;
3. Na bondade ausente, não pode haver amor;
4. Com o amor ausente, o coração se transforma em vícios egoístas;
5. Corrompido pelo vício, não pode haver empatia;
6. Na falta de empatia, apenas as emoções de despeito e ódio permanecem;
7. A malícia do rancor e do ódio faz com que alguém diminua e destrua outros.
Essa lógica é, acredito, a lógica do inferno. Os demônios têm um desejo sem fim, uma insatisfação sem fim, o que gera raiva e malícia sem fim. A Arte e a Literatura, bem como a História confirmam repetidas vezes esse padrão de aniquilação que explode quando alguém decide mentir para si mesmo.
Então, por que fazemos isso? Por que iniciamos um processo que evacua o amor de nossas vidas e da vida de outras pessoas? É claro que isso não é racional. Se fosse simplesmente uma questão de razão, isso poderia ser explicado apenas uma vez: “Não minta para si mesmo! Aqui está o porquê …” Infelizmente, sabemos que não funciona dessa maneira. Por que não?
Não funciona dessa maneira porque não somos inteiramente racionais – quero dizer que existem elementos não racionais na natureza humana. Temos coração, emoção, apetite, desejo. Se partirmos para o curso destrutivo de mentir para nós mesmos, isso indica que não cometemos simplesmente um erro (como adicionar incorretamente uma coluna de números).
O problema não é tanto uma questão de razão ou de coração. Em outras palavras, mentir para nós mesmos é um ato de idolatria – amamos algo mais do que amamos o Deus vivo, que é toda verdade, toda bondade, toda beleza, todo amor. Sim, precisamos conhecer a verdade – também precisamos amar a verdade. Amar a verdade nos levará a organizar nossa vida para ficarmos em harmonia com o amor, com o que é verdadeiro, bom e bonito.
Essa mudança de coração não é algo que podemos conseguir por nós mesmos. Temos que invocar o poder e a misericórdia do Deus justo, como vemos no Salmo 50:
“Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado. Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado. Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.”

Vamos admitir nossa culpa, nossa necessidade e nossa incompletude. Vamos nos alegrar por haver misericórdia oferecida àqueles que se arrependem. E vamos todos confessar fiel e frequentemente!
Aleteia

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