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Conheça o trabalho do fotógrafo cearense Samuel Macedo, do Projeto Infâncias

Cearense do mundo. É assim que Samuel Macedo, 35 anos, é descrito. O fotógrafo nasceu no Cariri, mais precisamente no Crato, e fez da estrada o seu lar ao percorrer as cinco regiões do País. O objetivo é retratar a pluralidade da infância no Brasil, por meio de um projeto iniciado há 10 anos, bem como registrar outras paisagens.
Começou a fotografar ainda menino, aos 12 anos, quando fez parte da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, uma ONG que visa promover formação social e cultural para crianças, jovens e familiares. Entretanto, o primeiro contato com a imagem veio ainda por influência do avô, que tinha uma oficina. De lá saiu, inclusive, a primeira câmera, uma caixa escura feita de maneira artesanal.
Samuel cresceu imerso em uma efervescência cultural, vendo os trabalhos dos conhecidos "artistas do sertão", a exemplo de benzedeiras, rezadores, aboiadores, mestres de reisado e cantadoras. Foi essa paisagem nordestina que guiou, inicialmente, a sua produção, a qual resultou nos projetos: Tradição Cariri, Mestre Navegantes, Futebol de Rua e Infâncias.
"Não sei se eu escolhi isso ou se isso me escolheu. Eu sempre tive uma aproximação muito grande disso tudo. É como se fossem as imagens das histórias que eu gosto de contar. Eu convivi muito na infância com essas personalidades e, isso me fez estar dentro desse universo e querer, de alguma forma, relatar essa história e, o meio que eu tenho, é a fotografia", explica o fotógrafo sobre a opção de retratar essas temáticas.

COMPILADO

Segundo ele, o projeto Infâncias surgiu a partir dos estudos das jornalistas Gabriela Romeu e Marlene Peret, como uma forma de registrar documentalmente o cotidiano plural de crianças brasileiras nas diversas manifestações, bem como o brincar, a culinária, as festas populares e os desafios do ser criança, tanto na cidade quanto no sertão.
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Meninos, soltos feito o vento, brincam com os pés descalços no chão de terra batida. Eles rodam pneus na comunidade Quilombola Carcará, em Potengi, CearáFOTO: SAMUEL MACEDO
Gabriela conheceu Samuel em uma viagem a trabalho, ao Cariri, para fazer a pauta de um evento. Ao descobrir o trabalho do cearense, já o convidou para a cobertura fotográfica. A partir daí, a parceria cresceu e, desde então, já se vão mais de 10 anos de colaboração no projeto.
Como resultado da pesquisa, foram produzidos filme, exposição e livros, entre eles os já publicados: "Terra de cabinha: pequeno inventário da vida de meninos e meninas do sertão", de 2016, e "Lá no Meu Quintal - O brincar de meninos e meninas de norte a sul", de 2019. Este último, conta ainda com a colaboração da também jornalista Marlene Peret. Outros dois ainda estão em fase de produção, os quais terão as temáticas das festas populares e culinária.
"Ela me chamou, pois queria fotografar crianças e como eu fotografo desde criança, ela achou que seria um olhar interessante para o projeto. E já tem mais de 10 anos que estamos rodando o Brasil todo", explica Samuel, que em abril já pega a estrada mais uma vez.

RECONEXÃO

O retrato infantil já era algo que permeava a produção de Samuel, ainda nos tempos em que integrava a Fundação Casa Grande. "Lá sempre tinha muita criança, acabou que esse foi o tema que eu me debrucei mais para fotografar", relembra.
MENINAMENINA
Menina da banda quilombola, acompanhada de cachorro, batuca instrumentoFOTO: SAMUEL MACEDO
A relação de Samuel com o universo infantil vai para além disso. "Eu tive uma infância muito boa. Quando comecei no projeto, eu estava iniciando a vida adulta e achava que só tinha infância até aquela época, mas essa possibilidade de viajar, e de me reconectar com essa fase, me fez ver que está tudo acontecendo do jeito que sempre foi, muda algumas coisas, mas elas ainda estão brincando", diz.
Participar do projeto tem sido uma reconexão permanente para Samuel. De acordo com ele, "fotografar é um reencontro comigo mesmo, com a minha infância".
A produção de Samuel Macedo é guiada pelas manifestações culturais e pelas paisagens sertanejas

Diário do Nordeste 

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