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Eu e a poesia caipira

Morre um homem, fica a fama, e a minha fama dá trabalho – cantou Tião Carreiro
Tião Carreiro foi um grande poeta caipira
Tião Carreiro foi um grande poeta caipira (Reprodução/ tiaocarreiro.com.br)

Afonso Barroso*
Sou fã dos grandes poetas de língua portuguesa. Fã dos sonetistas Olavo Bilac e Raimundo Correia. De Castro Alves, o poeta dos escravos. De Drummond e Manoel Bandeira, dois modernos geniais. Sou fã de Mário Quintana, de João Cabral de Melo Neto. E sou fã, com a mesma intensidade, do grande poeta caipira chamado Tião Carreiro.
Tomo aqui alguns versos desses tantos e desse um pra mostrar a você, meu caro amigo e minha amantíssima amiga, se tenho ou não razão como admirador dessas cabeças poeticamente bem dotadas. Começo com estes:
“Se se pudesse o espírito que chora ver através da máscara da face, quanta gente, talvez, que agora inveja nos causa, então piedade nos causasse” – disse Raimundo Correa.
"Tendo amor e saúde, da vida eu não reclamo, amo a vida que levo, e levo a vida que amo” – cantou Tião Carreiro
“Porque a Beleza, gêmea da Verdade, arte pura, inimiga do artifício, é a força e a graça na simplicidade” disse Olavo Bilac.
“Se você acha que meu orgulho é grande, é porque nunca viu o tamanho da minha fé” – cantou Tião Carreiro.
“De ti conservo no peito a saudade celeste, como também guardei o pó que me ficou daquele pequenino anel que tu me deste” – disse Manoel Bandeira.
"Eu sou aquela montanha de pedra pura que, apesar do terremoto que me atingiu, não abalou nem um pouquinho minha estrutura” – cantou Tião Carreiro
“Eu agora – que desfecho – já nem penso mais em ti… Mas será que nunca deixo de lembrar que te esqueci?” – escreveu Mário Quintana
"Apague com a mão do tempo os nossos rastros deixados, como flores que secaram no chão do nosso passado” – cantou Tião Carreiro.
“E se somos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta e emboscada antes dos vinte” – escreveu João Cabral de Melo Neto.
“Eu sempre dei prova das coisas que fiz, por muitos lugares passei, mas nunca pisei em falso no chão” – cantou Tião Carreiro.
“Amor é estado de graça, e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse” – escreveu Drummond.
"Morre um homem, fica a fama, e minha fama dá trabalho" – cantou Tião Carreiro
"Ela tem uma graça de pantera no andar bem-comportado de menina, no molejo em que vem sempre se espera que de repente ela lhe salte em cima" – escreveu Castro Alves.
"O perigo não me assusta, para trás não dou um passo. Duas feras mato a bala, uma só eu vou no braço" –cantou Tião Carreiro.
Eu escreveria muitos e muitos outros versos de poemas parnasianos, românticos, épicos, o que fosse, e sempre haveria algum a comparar com a simplicidade profundamente poética dos versos de Tião Carreiro. Fiquemos com esses que recolhi no cancioneiro caipira do bravo mineiro nascido José Dias Nunes em Montes Claros, no dia 13 de dezembro de 1934. Morreu em São Paulo, a 15 de outubro de 1993.
Mineiro do Norte, viola imensa e cabeça maior ainda, Tião Carreiro, o criador do pagode, é meu poeta caipira de cabeceira, onde comigo repousa cada noite meu radinho. De cabeceira.

*Afonso Barroso é jornalista, redator publicitário e editor

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