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Aprendizes do mundo

Rocco publica nova edição de ‘A maçã no escuro’ como parte da comemoração do centenário do nascimento de Clarice Lispector
Seriam os atos do homem, às vezes os mais cruéis, necessários para elevá-lo à condição de imagem e razão? Em A maçã no escuro (Rocco, 246 pp, R$ 54,90), Clarice Lispector faz crer que sim, transformando o atordoado Martim em um novo homem após ter supostamente assassinado a mulher. Fugindo do crime, Martim acaba descobrindo-se como homem, desprezando os antigos valores estabelecidos em sua vida. Na corrida por uma nova existência, ele se revela numa outra condição. Sua fuga, em vez de isolá-lo, remonta à criação do homem, de um novo ser surgido do nada. A narrativa, próxima da criação bíblica, em vez de julgar os personagens culpados ou inocentes, faz deles aprendizes do mundo, onde cada etapa funciona como uma gênese de um ser recém-criado. Os três capítulos que formam A maçã no escuro, escrito de 1951 a 1961, quando foi publicado, mostram de forma gradativa o pecado, ato impensado, e a redenção, o surgimento de um outro, como elementos primordiais de evolução do ser. A análise que Clarice impõe nada mais é que o exercício do pensamento: o diferencial do homem, que mata, morre e ressuscita, ressurgido a cada momento.

Via PUBLISHNEWS

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