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Admirável mundo novo

Século VII d.F (depois de Ford). Uma sociedade dividida em castas, cada uma delas feliz com o papel que lhe cabe desempenhar para garantir a estabilidade social, sem questionar.
Os seres humanos são concebidos mediante fertilização in vitro, a garantir a uniformidade dos indivíduos através de bebês de proveta, os quais são condicionados durante toda a vida, de modo a cumprirem com alegria as suas tarefas, a depender de suas castas: deltas, gamas e ipsilões.
O Soma é o remédio garantido a todos para impedir qualquer sentimento de infelicidade. Um governo centralizado e totalitário encarregado de não permitir que a ordem social seja ameaçada.
Ensino conduzido e direcionado, inclusive durante o sono. A realidade posta é indiscutível. Os livros e o conhecimento são proibidos.
A velhice fisiológica não mais existia.
A divindade era Ford.
Em 1932, Aldous Huxley publicava Admirável Mundo Novo, discorrendo sobre essa sociedade futurista que, ao longo do tempo, vem se mostrando de uma contemporaneidade impressionante. A preocupação do autor, na época, era com as correntes ideológicas autoritárias que surgiam na Europa.
Bernard se sentia diferente nessa sociedade por possuir uma “insuficiência física”, mas numa viagem de férias com Lenina à Reserva de Selvagens, onde moram índios e mestiços, ele conheceria John, um rapaz belo e sensível, resolvendo levá-lo para conhecer o Mundo Novo.
Ali, as pessoas ficaram curiosas por conhecer aquele belo selvagem, que guardava consigo um livro antigo e já gasto de Shakespeare.
Na medida em que passa a conhecer a civilização, John questiona essa felicidade falsa e mentirosa, onde é proibido ler Shakespeare por ser considerado uma coisa velha, mesmo sendo belo.
O Administrador Mustafá Mond esclarece: “O mundo é estável, agora. As pessoas são felizes, conseguem o que querem e nunca querem aquilo que não podem obter. Sentem-se bem, estão em segurança, nunca estão doentes, não receiam a morte, vivem numa serena ignorância da paixão e da velhice, não são sobrecarregadas com pais e mães, não têm mulheres, nem filhos, nem amantes, pelos quais poderiam sofrer emoções violentas, estão de tal modo condicionadas que, praticamente, não podem deixar de se portar como devem”.
Mas John queria Deus, a poesia, o perigo, a liberdade, a bondade e o pecado, o direito de ser infeliz, de ficar velho, de adoecer, de sofrer.
Por certo, são as dualidades, a diversidade de sentimentos e as diferenças que nos fazem humanos, demasiadamente humanos.
E que assim permaneçamos.
Grecianny Carvalho Cordeiro
Promotora de Justiça

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