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Sentimental demais

Com a voz de Altemar Dutra ao fundo dessa crônica, interpretando o clássico citado, eu esclareço que ando assim sobretudo no que tange ao sexo oposto
Com a voz de Altemar Dutra ao fundo dessa crônica, interpretando o clássico citado, eu esclareço que ando assim sobretudo no que tange ao sexo oposto
Com a voz de Altemar Dutra ao fundo dessa crônica, interpretando o clássico citado, eu esclareço que ando assim sobretudo no que tange ao sexo oposto (Pixabay)
Evocando aqui a morte recente do compositor Evaldo Gouveia (que com Jair Amorim, já falecido também) compôs o clássico Sentimental demaiseu apelo para o mote musical e declaro, influência ou não do confinamento pandêmico, que fiquei mais ainda “sentimental demais”. E com a voz de Altemar Dutra ao fundo dessa crônica, interpretando o clássico citado, eu esclareço que ando assim sobretudo no que tange ao sexo oposto. O mulherio de minha vida, de nossas vidas.
Não vou começar com o óbvio de dizer que sem elas, as mães, sequer estaríamos aqui. Então pulo e vou direto para o que há de melhor em mim. É pouco, mas sou completamente influenciado e pautado pelas mulheres da minha vida. As amigas, as tias e a mãe, as companheiras da vida afora, esposas ou namoradas. Cada uma delas pôs em mim uma pitada de sentimento e de alento e me tornou um “tiquinho” melhor na medida em que me fizeram ver o que eu não via antes delas. Mesmo que elas me irritassem, me incomodassem foram me tirando da mesmice homogênea dos pensamentos machistas e achistas. Por causa delas tive e criei filhos, olhei para o futuro pensando em ter teto e ser menos hedonista, me debrucei sobre assuntos que não conhecia, aprendi a ser mais tolerante com os contrários embora falte muito ainda para que eu deixe de ser um “ranzinza raiz”.
No dia do meu recente aniversário, no começo dessa semana, quase todas elas, as que importam e se importaram, me deram uma palavra de amor, amizade, carinho e afeto e mexeram com meu coração na medida em que se ligaram para mim é porque não as magoei tanto assim. Ou se as magoei fui perdoado. Aí parei um instante para ver como todas elas – e na lista incluo, repito, as grandes amigas e as parentes – sempre me ajudaram a ter uma visão mais otimista, mais positiva dessa vida embaralhada que a gente leva.  E então, aqui e agora, ensaiei essa tosca crônica para dizer que as mulheres sempre me fizeram “sentimental demais”.
No momento em que não posso abraçar nenhuma delas por conta da pandemia já aqui citada eu as homenageio com um livro publicado em 1980 que tem o sugestivo nome de Mulheres da Vidapublicado pela extinta Vertente Editora. O livro é uma reunião de poetas mulheres (odeio o termo poetisa) que vão de Eunice Arruda a Leila Miccolis, passando pela Norma Benguell, Socorro Trindad, a minha sempre querida Reca Poletti e até a Glória Perez que veio a se revelar depois como autora de novelas.
Essa reunião de autoras nessa modesta antologia é de uma beleza ímpar e me fez ver de supetão que é sim necessário ser “sentimental demais” por elas. Não creio muito nessa divisão entre literatura e poesia masculina ou feminina. Por outro lado, paradoxalmente, entre tantos poemas lindos nesse livro me pergunto que homem seria capaz de fazer um como este escrito pela Reca Poletti?
SEU PADRE
Seu padre
Sei que ainda
No mundo
Muitas dádivas restam
Mas tenho
Uma tendência
Medonha
Pra gostar mais
Das coisas que não prestam.
*Ricardo Soares é diretor de tv, escritor, roteirista e jornalista. Publicou 8 livros, dirigiu 12 documentários. Em breve sai ?Devo a eles um romance?, editora Penalux.

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