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Desabafo da Língua Portuguesa

Carlos Delano Rebouças*

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Sei que podem dizer que sou difícil, que sou complicada, que nem todo mundo me entende ou me compreende, ou que me diferencio de tantas outras mundo afora, sem ao menos conhecê-las. Quem dera que me conhecessem de verdade! Tenho certeza de que mudariam esse triste e equivocado pensamento em relação a mim.

Faço parte da vida de todos vocês, usuários da língua de Camões! E isso já há muito tempo, séculos, décadas, anos, meses, dias e horas, e instantes nos quais um choro, mesmo sem palavras, ainda inocente, anuncia uma nova vida que o mundo ganha! Um novo praticante nem sempre por escolha, muito mais pelas circunstâncias reservadas pelo acaso, caso acreditem que exista, que é o de nascer em terras onde o português pisou.

Sei que vão dizer que não sou universal como a do Tio Sam! Sei que vão assegurar que com ela não chego a lugar algum, contrariando o velho e distorcido dito popular de “Quem tem boca vai a Roma.”, o qual deveria ser vaia, contudo, corretíssimo em não aplicar a crase, visto que minhas regras sempre vão ser muito rígidas, embora, de vez em quando, tenha que permitir exceções.

Feliz demais fico quando cuidam muito bem de mim; quando me valorizam e me exploram ao extremo. Fernando Pessoa foi incrível! E seus heterônimos (Deus meu!), nem se fala! Mas para não ser injusto, prefiro nem falar de outros mais para não causar ciúmes. Lá no Brasil, gente, são tantos que sempre me trataram com respeito que sempre mereci. Alencar e Machado que me digam. Em verso e prosa deixaram marcas que não se apagam com o tempo, este que permite uma constante renovação; uma incontrolável multiplicação entre os mais jovens, por uma nova linguagem que se diz social, em redes, sem pontos e vírgulas, abreviadas, criadas e recriadas em estilos que ganham força, e sem demora para ganhar espaço no meu vocabulário.

E quando menos se espera, algumas delas começam a caminhar para a obsolescência, tornando-se arcaicas, isto é, praticadas apenas pelos meus filhos mais antigos, vividos, conservadores. Passam a deixar saudades – essa palavra que é só nossa e de ninguém mais – como as que sentimos de quem sempre nos tratou bem e com respeito, admirando-nos pelas nossa riqueza que reluta em renasce a cada palavra pronunciada, a cada texto produzido, a cada verso de um poema sonorizado pelo meu mais apaixonado praticante.

*Professor de Língua Portuguesa e redação, conteudista, palestrante e facilitador de cursos e treinamentos, especialista em educação inclusiva e revisor de textos.

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