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Meu livro de cabeceira

O prédio era da CBV, do empresário Sebastião Paes de Almeida, então um dos homens mais ricos do Brasil

'Meandros do Poder' reúne memórias do repórter político Jadir Barroso
'Meandros do Poder' reúne memórias do repórter político Jadir Barroso (Reprodução)

Afonso Barroso*

Quero falar de um livro que é minha leitura diária. Releio capítulos, aleatoriamente. Tem por título Meandros do poder e foi escrito pelo meu irmão, Jadir Barroso. O Jadir foi, a meu juízo, o melhor repórter político do jornalismo brasileiro. Não falo por ser meu irmão, mas por não ter conhecimento de nenhum outro do setor com o profissionalismo, a absoluta fidelidade aos fatos e a capacidade de descrevê-los com clareza e elegância. Se alguém souber de outro com o mesmo talento, me informe, por favor, que passarei a admirá-lo como admiro o Jadir.

Não há ficção em Meandros do poder. É tudo verdade registrada em mais de quatrocentas páginas com fatos, análises, opinião e fotos. Daí que os títulos dos capítulos são extensos, até porque o Jadir não tinha por hábito e estilo usar muito a concisão. O livro tem nove partes e um apêndice. A primeira parte, com 21 capítulos, tem por título um enunciado do dogma jornalístico: "Onde, como, quando e porque a corrupção tomou conta do país nos últimos anos".

De escândalo em escândalo, narrados e comentados sem meias palavras, a história passa por vários governos, sem ordem cronológica. Vai de Lula ao golpe de 1964, chega a FHC, compara governos e governantes e, principalmente, opina sobre as diversas administrações em reportagens e crônicas que escreveu ao longo dos anos. O governo Bolsonaro não entra, porque Jadir já não estava entre nós quando o capitão foi eleito.

Ele conta como garimpava notícias para escrever matérias que, não raro, mexiam com os meandros da política.

Um dos capítulos mais interessantes tem por título "O apartamento secreto construído pelo empresário Paes de Almeida para Juscelino no centro de BH". Jadir, que era assessor de imprensa do prefeito Maurício Campos, conta que, uma vez viabilizados os recursos para início da implantação do metrô de superfície em BH, a Prefeitura começou a desapropriação de imóveis por onde passaria a linha férrea. Um dos imóveis que seriam derrubados era um prédio comercial de quatro andares, situado na Avenida do Contorno, do outro lado do Arrudas, em frente à Mesbla, hoje o shopping Tupinambás. Era a sede mineira da CBV – Companhia Brasileira de Vidros, do empresário Sebastião Paes de Almeida, um dos homens mais ricos do Brasil na ocasião.

Abro aspas para o Jadir: "Acertados os valores da indenização e definida a data para demolição do prédio, o prefeito, esse escriba, o superintendente da Sudecap, Venites de Barros, e alguns técnicos fomos fazer a vistoria do imóvel. Mas, qual não foi a nossa surpresa quando o diretor da CBV nos levou para conhecer um apartamento encravado naquele prédio eminentemente comercial. Havia uma entrada discreta e estratégica para uma garagem privativa, que ia diretamente a um elevador também privativo, ligando a garagem ao 3º andar.

Pegamos o elevador, e quando a porta se abriu, deparamos com um bem montado apartamento, com uma decoração de extremo bom gosto. Aí, então, veio a revelação surpreendente. O diretor da CBV nos disse que aquele apartamento era destinado exclusivamente ao uso pessoal do presidente Juscelino Kubitschek, desde quando era governador do estado. (...) Para que serviria um apartamento situado numa área central, mas estratégica, da capital mineira? E, ainda por cima, para Juscelino?

Quem pensou em encontros furtivos, acertou. O diretor da CBV não explicou como as acompanhantes do presidente chegavam ao apartamento, o que só sabiam os assessores especiais de JK. Dizia-se que ele tinha uma amante no Rio de Janeiro, que todo mundo conhecia por ser a mulher mais bonita da high society carioca e casada com um deputado federal da antiga UDN, e que ela vinha com JK no avião. Não se sabe como ocorriam o embarque e desembarque. Era segredo de Estado".

E Jadir conclui: "O prédio foi demolido, e com ele sepultados os segredos de alcova de Juscelino, junto com as boas recordações dos dias felizes que passou ali".

Este é um dos segredos que o repórter revela em Meandros do poder. O livro teve tiragem limitada e foi distribuído pela revista Mercado Comum, onde Jadir trabalhou muitos anos como cronista e editor, e pela esposa Marolina, a Maroca querida. Destinou-se, basicamente, aos amigos que o repórter, vindo de São José do Jacuri, cultivou às centenas durante sua vida profissional e pessoal. 

Não hei de perder a oportunidade de divulgar, nas minhas crônicas, outros capítulos interessantes de Meandros do poder, obra do meu grande irmão e amigo Jadir Barroso.  


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*Afonso Barroso é jornalista, redator publicitário e editor

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