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Projeto relata desafio de mães e mulheres grávidas durante pandemia

 Da alegria ao medo, mães falam sobre o período de isolamento no projeto 'Para dar boas vindas'


Mulheres relatam o período de isolamento, parto e gestação

Mulheres relatam o período de isolamento, parto e gestação (Rômulo Garcias/Reprodução instagram)

Larissa Troian

Planejar uma gravidez é sempre um desafio. Gerar uma vida é um desafio ainda maior. As preocupações começam muito antes do nascimento: enxoval, pré-natal e bem estar físico e mental das mães estão entre os primeiros preparativos. E para as mães que a gestação ou o parto vieram durante a pandemia?

Foi pensando nisso que a pesquisadora Adriana Oliveira, de Belo Horizonte, criou o projeto Para dar as boas vindas.

Adriana conta que a ideia surgiu "com nossa falta de luto pelas mortes que acometem o país nessa pandemia". Ela conta que após o início do isolamento, "ver uma pessoa grávida vem sendo uma alegria maior que naturalmente já havia sido, como uma imagem de resistência e afirmação da vida".

Com várias mortes ocorrendo pelo país e pelo mundo em decorrência da pandemia, Adriana considera a gravidez e o parto um ato de coragem e revolução. Em seu projeto, ela cita que Hannah Arendt afirma que uma boa medida pra se avaliar a saúde de uma sociedade é a capacidade de dar boas-vindas aos que chegam. E como dar as boas-vindas aos que chegam em meio à dor? Talvez honrar a vida nesse momento seja tão importante quanto reverenciar nossos mortos, porque morte e nascimento são as duas pontas visíveis da vida.

Com breves entrevistas e relatos de mães que pariram durante a quarentena e as que descobriram a gravidez no período de isolamento, a pesquisadora criou a página @paradarboasvindas, no Instagram, detalhando esse momento.

O primeiro depoimento foi o da Carol, de São Gonçalo do Rio das Pedras. Para ela, essa epidemia é triste, mas nos traz a oportunidade de "viver um momento decisivo para o começo de uma nova terra, mais amorosa, menos competitiva; uma mudança nas relações". Ela ressalta que sua gravidez tem sido um momento de "fortalecer o sentimento de não me entregar ao medo, a de me manter na vibração do amor, da alegria".

Margarida Silveira Alves descobriu a gravidez em abril, um mês após o início da pandemia. Ela concorda que o atual momento traz muitas "incertezas e preocupações" e, ter que lidar com isso diariamente, tem sido seu maior desafio. Em contrapartida, passado o susto da descoberta da gestação, ela acredita que "a palavra que pode definir esse momento é renovação": "a minha esperança e a minha fé são maiores que o medo e eu acredito que essa fase em breve vai passar".

Hená Deslandes é mãe de Ravi e Aurora, que nasceram em fevereiro. Ela está morando na casa dos pais na quarentena, em BH. Hená sente que, nesse período de confinamento, todo mundo "enlouqueceu" um pouco mais, e que os pensamentos estão muito "doloridos". "Se eu não estivesse com os bebês, talvez estivesse assim também. Não me sinto com medo de nada, só os medos práticos mesmo, dos cuidados de higiene, quando vamos ao médico e vacinar, ou uma chupeta que cai...".

Hená conta que os bebês foram "produção independente", e que resolveu engravidar quando viu o resultado das últimas eleições para a Presidência: "na hora que o Bolsonaro ganhou, lembro de pensar 'eu vou ser mãe', eu não deixo esse mundo pra esse povo mais de jeito nenhum, eu vou criar os meus ursalenses, não quero nem saber", referindo-se à suposta organização esquerdista Ursal.

O momento é de cuidados dobrados com atividades que antes pareciam tão corriqueiras, mas, ao mesmo tempo, promove um encontro com os filhos e com o próprio corpo no período de gestação que antes, pela falta de tempo, as mães não encontravam.

Adriana vai publicar relatos semanalmente na página @paradarboasvindas. A ilustração é do artista mineiro Rômulo Garcias.


Redação Dom Total

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