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“Voltar sempre ao primeiro encontro”

O povo que ouviu Jesus ao longo do dia, e depois obteve a graça da multiplicação  dos pães e viu o poder de Jesus, queria fazê-lo rei. Foram primeiro ter com Jesus para ouvir a palavra e também para pedir a cura dos doentes. Ficaram o dia inteiro a ouvir Jesus sem se aborrecer, sem se cansar: estavam lá, felizes. Então, quando viram que Jesus lhes dava de comer, o que não esperavam, pensaram: “Mas Ele seria um bom governante para nós e certamente poderá libertar-nos do poder dos romanos e levar o país em frente”. E, entusiasmados, queriam fazê-lo rei. A sua intenção mudou, porque viram e pensaram: “Bem… uma pessoa que realiza este milagre, que alimenta o povo, pode ser um bom governante” (cf. Jo 6, 1-15). Mas naquele momento tinham esquecido o entusiasmo que a palavra de Jesus suscitara nos seus corações.
Jesus afastou-se para rezar (cf. v. 15). Aquelas pessoas ficaram lá e no dia seguinte estavam à procura de Jesus, “Ele deve estar aqui”, disseram, pois viram que não tinha embarcado com os outros. E lá havia um barco… (cf. Jo 6, 22-24). Mas não sabiam que Jesus tinha ido ao encontro dos outros caminhando sobre as águas (cf. vv. 16-21). Então decidiram ir para o outro lado do Mar de Tiberíades à procura de Jesus e, quando o viram, a primeira palavra que lhe disseram foi: «Rabi, quando chegaste aqui?» (v. 25), como se dissessem: “Não entendemos, isto parece estranho”.
E Jesus fá-los voltar ao primeiro sentimento, ao que tinham antes da multiplicação dos pães, quando ouviram a palavra de Deus: «Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes – como no princípio, os sinais da palavra, que os entusiasmavam, os sinais da cura – mas porque comestes dos pães e ficastes saciados» (v. 26). Jesus revela a intenção deles e diz: “Mas é assim, mudastes de atitude”. E eles, em vez de se justificar: “Não, Senhor, não…”, foram humildes. Jesus continua: «Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque nela Deus Pai imprimiu o seu sinal» (Jo 6, 27). E aquelas pessoas boas disseram: «Que faremos para praticar as obras de Deus?» (v. 28). «A obra de Deus é esta: que acrediteis n’Aquele que Ele enviou» (v. 29). Este é um caso em que Jesus corrige a atitude das pessoas, da multidão, porque a meio do caminho se desviou um pouco do primeiro momento, da primeira consolação espiritual, e empreendeu um caminho que não era certo, uma via mais mundana do que evangélica.
Isto faz-nos pensar que muitas vezes na vida começamos a seguir Jesus, a ir atrás de Jesus, com os valores do Evangelho, e no meio do caminho mudamos de ideia, vemos alguns sinais, afastamo-nos e conformamo-nos com algo mais temporal, mais material, mais mundano – talvez – e perdemos a memória daquele primeiro entusiasmo que tivemos quando ouvimos Jesus falar. O Senhor faz-nos regressar sempre ao primeiro encontro, ao primeiro momento em que Ele olhou para nós, em que nos falou e fez nascer em nós o desejo de o seguir. É uma graça a pedir ao Senhor, porque nós, na vida, teremos sempre esta tentação de nos afastar porque vemos outra coisa: “Isto vai correr bem, essa ideia é boa…”. Assim afastamo-nos. A graça de voltar sempre à primeira chamada, ao primeiro momento: não esqueçamos, não  esqueçamos a nossa história, quando Jesus olhou para nós com amor e disse: “Este é o teu caminho”; quando Jesus, através de tantas pessoas, me fez entender qual é o caminho do Evangelho e não outros caminhos um pouco mundanos, com outros valores. Voltemos ao primeiro encontro.
Impressionou-me sempre – daquilo que Jesus diz na manhã da Ressurreição – a sua afirmação: «Ide dizer aos meus irmãos que vão à Galileia, pois é lá que me verão» (cf. Mt 28, 10); a Galileia foi o lugar do primeiro encontro. Lá eles tinham encontrado Jesus. Cada um de nós tem dentro si a sua “Galileia”, o momento em que Jesus se aproximou de cada um de nós e disse: “Segue-me”. Na vida acontece o que ocorreu àquelas pessoas – boas, porque depois lhe dizem: “Mas o que devemos fazer?” e obedecem imediatamente – acontece que nos afastamos e procuramos outros valores, outras hermenêuticas, outras coisas e perdemos o frescor da primeira chamada. Também o autor da Carta aos Hebreus nos remete para isto: «Lembrai-vos dos primeiros dias» (cf. Hb 10, 32). A memória, a memória do primeiro encontro, a memória da “minha Galileia”, quando o Senhor olhou para mim com amor e me disse: “Segue-me”!
CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO
DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
 “Voltar sempre ao primeiro encontro”

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