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Nossa páscoa na Páscoa do Senhor

Padre Geovane Saraiva*

A luminosidade da festa da Páscoa, naquele clarão do novo fogo, por bondade de Deus, quer acender na humanidade um grande desejo: o de se viver a nossa fé com lucidez e coerência, mas na consciência de que Jesus Cristo ressuscitado é o princípio e o fim. Jesus ontem, hoje e sempre está, evidentemente, no tempo, na eternidade, na glória e com poder por todos os séculos, na sua luz que ressuscita, resplandecente, e também dissipa as trevas do nosso coração e da nossa mente (cf. Missal Romano, p. 271).

Vemos Jesus na fidelidade ao Pai e à humanidade, com sua vida consumada no alto da cruz, na condição de servo fiel até o fim, fomentando-nos coragem e persistência: “É graça divina começar bem, graça maior é persistir na caminhada, mas graça das graças é não desistir nunca”. A Páscoa só tem razão de ser na mesma solidariedade e despojamento, num misterioso silêncio, ativo e expectante, mas no incontável número de mães e pais que choram seus filhos e filhas ceifados/as pela Covid-19.

O lamento e a dor de tanta gente nos fazem voltar ao alarido de Maria, que acompanhou seu filho Jesus até o pé da cruz (Jo 19, 25). A campanha “Vacina, sim” nos faz lembrar a campanha pelas “Diretas já”, há 37 anos. A desaprovação de então pode ser considerada a mesma: negacionismo, obscurantismo, trivialidade, tolices e asneiras, sem esquecer das torturas infames e degradantes, além do opróbrio vil e ignóbil, numa ausência de tolerância, evidentemente dentro desse contexto, clamando pela liberdade esperançosa, numa simbologia pascal, possibilitando aquele duelo forte – e mais forte – da vida que vence a morte.

Com Dom Helder digamos: “Que eu possa aprender, afinal, cobrir de véus o acidental e o efêmero, deixando, em primeiro plano, apenas o mistério da redenção: o mistério da Páscoa”. O que importa mesmo a todos nós é que seja o espírito da esperança pascal a nos desafiar, colocando-nos, na mente e no coração, a proposta do percurso divino, afastados da ilusória e mutável esperança, entrelaçados no triunfo da Páscoa eterna.

Que a nossa páscoa, na Páscoa do Senhor, seja consequente, a partir do que acontece hoje, por causa do coronavírus, pois sabemos que devemos cumprir o preceito de se despedir de seu ente querido pela distância – e mentalmente –, repetindo-se também a prece ou oração que brota do interior das pessoas, pelos mesmos irmãos queridos e demais pessoas que chegaram ao fim da jornada terrena e ao ocaso. Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

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