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Amar como Jesus amou

 Mensagem de Dom Jeová Elias

“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 15,12).

Dom Jeová Elias*

O texto do Evangelho deste VI domingo da Páscoa está inserido no contexto da última ceia, quando Jesus se despede dos seus Apóstolos. É como se fosse o seu testamento espiritual. Ele dirige palavras marcantes para vida dos Apóstolos e para a nossa vida. Sua preocupação é com o amor: amor que vem do Pai e se dirige ao Filho, do Filho se dirige aos seus discípulos, e estes devem viver o amor entre si. Um amor com as características do amor que Ele teve pelos seus: gratuito, capaz de dar a vida e mesmo de abranger até os inimigos (Cf. Mt 5,44; Lc 6,27).
O amor foi o distintivo dos primeiros cristãos. Deles diziam impressionados os que não acreditavam em Jesus: “Vejam como eles se amam” (Tertuliano, Apologia, 39). O amor era o que marcava a relação na comunidade primitiva.
O sentido da nossa existência está em amar. Somos frutos do amor de Deus e devemos ter como objetivo de vida o amor. Amor que não é simplesmente um sentimento abstrato no nosso coração. O pedido de Jesus é para que o nosso amor se traduza em gestos concretos. Amemo-nos uns aos outros como Ele nos amou. Ele nos amou com uma sensibilidade inconfundível: sentia compaixão pelas pessoas que sofriam, aliviava suas dores e enxugava-lhes as lágrimas; sempre estava disponível para fazer o bem e ajudar a todos aqueles que necessitavam, com gestos de carinho. Ele abraçava as crianças, tocava com ternura os leprosos, curava os enfermos... assim como Jesus fez, também somos convidados a fazer. “Quem ama como Jesus, aprende a olhar os rostos das pessoas com compaixão” (Pagola, O Caminho Aberto por Jesus – João, p. 225).
O amor deve ser o distintivo da nossa religião! Aí esta o cerne da nossa fé e o grande desafio em vivê-la. Há pessoas que buscam uma religião não para desenvolver a capacidade de amar com mais intensidade, mas para tirar proveito particular. Há outras que querem uma religião das nuvens, ou como um conjunto rígido de doutrinas e não como caminho

de seguimento de uma pessoa tão especial: a pessoa de Jesus Cristo, que tinha um grande coração e que só desejou o amor como imperativo. A religião que agrada a Deus vai além dos rituais: é aquela que ajuda as pessoas a amarem. A nossa fé deve ser demonstrada não apenas pelos preciosos símbolos da nossa religião que podemos portar, ou pelas orações que recitamos, mas pela nossa capacidade de amar.
Não é fácil viver o amor, sobretudo numa sociedade pluralista, de muitas ideias, muitas religiões, muitas concepções filosóficas, diversas posições político-partidárias. O diferente tem sido visto por muitas pessoas como inimigo a ser combatido e até abatido. Contudo, o diferente também é meu irmão, é um ser humano que deve ser acolhido e amado. Quanta energia algumas pessoas desperdiçam alimentando o sentimento de ódio, sendo intolerantes. É lamentável que muitos ajam assim em nome da própria fé, da pureza da religião, numa espécie de caça às bruxas. É abominável incluir o nome de Jesus em frases que defendem torturadores! Por que desperdiçar tanta energia fazendo o mal?
O filósofo francês Jean Guitton, falecido em 1999, com 97 anos, no seu romance “Meu Testamento Filosófico”, narra os seus últimos dias, a sua morte e o seu julgamento no tribunal celeste. Inclui no enredo testemunhas de acusação e testemunhas de defesa, contendo filósofos e santos. A primeira indagação dirigida pelo juiz a ele é profundamente questionadora: Jean Guitton, tu amaste? Tal pergunta o interroga se sua vida foi marcada pelo amor; se o seu amor foi desinteressado ou utilitarista; se visava realmente o bem do outro ou o seu próprio. Foi muito difícil para ele responder à pergunta. Certamente será também a pergunta que ouviremos. Espero que a nossa resposta possa ser ao menos: Senhor, eu me empenhei em amar! Senhor, eu quis amar!
Neste segundo domingo de maio comemoramos o Dia das Mães. Felicito você, querida mãe, por este dia tão especial. Minha gratidão a todas as mães que abraçaram com generosidade e responsabilidade essa sublime vocação. Você, mãe, foi chamada por Deus para colaborar com Ele na transmissão da vida e no desabrochar de toda a sua potencialidade. Você é um grande símbolo do amor que Jesus

recomenda. No seu colo, nas suas palavras, nas suas carícias maternais, no seu exemplo de vida sacrificada, os filhos aprendem o que é amar. Ninguém nasce sabendo a amar. A mãe é a primeira educadora para o amor, é a primeira catequista dos filhos. As orações singelas que ela ensina nunca serão esquecidas por eles: ficarão gravadas em seus corações para a eternidade. Formem os seus filhos para serem tolerantes com o diferente, capazes de dialogar e de não verem no outro ser humano distinto um inimigo a ser combatido, mas um irmão a ser amado.
Querido amigo, querida amiga, desejo que esta semana seja marcada pelo profundo amor de Jesus Cristo por você e por sua família. Que o amor recebido seja também compartilhado. Que as suas energias e toda a sua disposição sejam canalizadas para amar: começando no seio da sua família e amigos, mas se estendendo a todos e todas, especialmente às pessoas mais carentes e fragilizadas.

*Bispo de Goiás-GO

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