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“Soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo.”


Pe. Paulo Sérgio Silva*

Tal qual a ventania mencionada na Primeira Leitura, a presença do Espírito Santo preenche a conclusão do Tempo Pascal com a solenidade de Pentecostes. O Espírito Santo já se fez presente na paixão, morte e ressurreição quando Jesus entregou na cruz o Espírito e, no mesmo Espírito, foi ressuscitado pelo Pai. Agora, derrama-o soprando como Dom de Deus a todos os fiéis para edificar, transformar, renovar a Igreja/Comunidade e fazer surgir a humanidade nova para o Reino de Deus.

Na Primeira Leitura (At 2,1-11), o Espírito Santo é apresentado como Aquele que orienta a caminhada em direção ao Reino. Como aconteceu no início dos tempos, Ele cria a nova comunidade do Povo de Deus, superando as suas diferenças socioculturais e une numa mesma comunidade de amor povos de todas as raças e culturas. O Espírito é apresentado através de dois símbolos: o vento e o fogo. Eles simbolizam a força irresistível de Deus que vem ao encontro, comunica-se e dando o seu Espírito constitui a comunidade de Deus (cf. Ex. 19,16.18; Dt. 4,36). Sua ação demonstra que o Espírito não está restrito à Igreja. Ele enche, impregna e renova o universo e toda a humanidade. Onde menos esperamos, podemos encontrar a ação do Espírito do Senhor que vai “cristificando” toda a humanidade e toda a criação.

Na Segunda Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13), Paulo avisa aos coríntios que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede a inumerável diversidade de dons que enriquecem, produzem e mantém a unidade eclesial. Sendo assim, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos a serviço de todos. É então preciso que os membros da comunidade tenham consciência de que apesar da diversidade de dons espirituais e funções é o mesmo Deus que age em todos.

No Evangelho (Jo 20.19-23), João apresenta-nos a comunidade cristã reunida em torno de Jesus ressuscitado. Para ele, à medida que Cristo comunica o Espírito Santo a comunidade é recriada como viva e rejuvenescida. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila em Gêneses (2,7). É o Espírito que permite a eles superar o fechamento do coração provocado pelo medo e dar testemunho do amor que Jesus viveu até a doação da própria vida. Vivificados pelo Espírito, recebem sua missão: a eliminação do pecado. É preciso ser claro e falar à humanidade aquilo que é de Deus e aquilo que é fruto do pecado. Quem aceita as condições do Reino torna-se membro da comunidade de Jesus. Quem não aceita, continua a percorrer caminhos de egoísmo, de corrupção e de morte, isto é, de pecado. A comunidade dos discípulos, animada pelo Espírito, não será dona da salvação, mas a mediadora desta oferta de salvação.

Na Semana de Oração pela Unidade Cristã cabe interrogar-nos: o que é que nos une? Em que se baseia a nossa unidade? Como estamos usando os dons e o mesmo Espírito que nos foi dado no Batismo e confirmado na Crisma? Temos colocados os dons a serviço da comunidade ou nos fechados em atitudes de egoísmo e individualismo?

Encerremos com a oração feita pelo Papa Francisco na festa de Pentecostes de 2020: “Irmãos e irmãs, peçamo-lo: Espírito Santo, memória de Deus, reavivai em nós a lembrança do dom recebido. Libertai-nos das paralisias do egoísmo e acendei em nós o desejo de servir, de fazer bem. Porque pior do que esta crise só o drama de a desperdiçar fechando-nos em nós mesmos. Vinde, Espírito Santo! Vós que sois harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos a coragem de sair de nós mesmos, de nos amar e ajudar, para nos tornarmos uma única família. Amém.

*Professor de Teologia e Pároco de Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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