Pe. Geovane Saraiva*
Jamais devemos hesitar em meio a
ocasos e cruzes da vida, nós, criaturas humanas, em nossos deslocamentos, no
modo de pensar e de agir e nas contradições, com nossa realidade física e
existencial, em prantos, lamentos e lágrimas: é o peregrinar humano rumo àquele
êxodo final. Que nossa mística e nossa força motivadora estejam em Jesus –
eucarístico, pão da vida, pão descido do céu –, evidentemente numa atenta dinâmica e enérgica retidão, no sentido de se dar uma resposta à gratuidade de
Deus. Volto-me mais uma vez ao espírito de Santo Agostinho, que foi levado pelo
amor à eternidade e à verdade, cada dia e passo a passo, externando sempre o
sentimento amoroso, do âmago do coração, aspirado na acentuada avidez de se
conquistar e usufruir daquela divina e celestial cidade
,
cuja suprema autoridade é Jesus de Nazaré.
O desafio é viver em conformidade
com a vontade de Deus, que, segundo o apóstolo Paulo, é a celebração da Ceia do
Senhor, a proclamação do mistério da morte de Cristo, na qual esse mistério se
torna eficaz e satisfatoriamente compreensível aos que procuram haurir dessa
fonte, usando de todos os meios, inseridos verdadeiramente na celebração do
banquete do Senhor
.
Ao participarem do referido banquete, entram os fiéis em comunhão com o corpo e
sangue de Cristo, fazendo com que a comunidade, totalmente envolvida pelo mesmo
mistério, se transforme em partícipe do sacrifício, tendo um só corpo e uma só
alma como resultado para consigo mesmo.
Que fique claro que a Ceia do
Senhor é o elemento a causar o maior júbilo, essencialmente escatológico e
imorredouro, claramente presente, longe de qualquer dúvida, desde a origem como
princípio da vida cristã da humanidade. Usa-se o termo “banquete messiânico” em
alusão a uma grande, lúcida e viva experiência de Deus, tendo como centro a
palavra do Senhor, que é vida. A Ceia se confunde com a Páscoa do Senhor, vida
nova a mover a humanidade, o Espírito Santo que nos anima, numa comunhão íntima
da criatura humana com Deus: criador, salvador e santificador. A eucaristia e
os demais sacramentos, ou mistérios, vividos na liturgia da Igreja, de um modo
contemplativo, querem, pela vontade de Deus, penetrar, progressivamente, na
realidade da vida humana e no mundo.
O Filho quer fazer de nós
verdadeiros adoradores do Pai (cf. Jo 4, 24), filhos de Deus participantes de
sua filiação única (cf. 2Pd 1, 4). O Espírito que Jesus enviou do Pai para sua
Igreja inspira, estimula, sustenta todo esse projeto de vida. É preciso mudar o
nosso conceito de oração, e em primeiro lugar escutar o que Deus tem a nos
dizer;
colocar o nosso querer no querer de Deus; também nossa vontade na vontade de
Deus; e ainda nossa liberdade na liberdade de Deus. Assim seja!
*Pároco
de Santo Afonso, blogueiro, escritor e integrante da Academia Metropolitana de
Letras de Fortaleza (AMLEF).
LORSCHEIDER, Aloísio. Cf. Variações
sobre a Oração Cristã, Franciscanos do RS, p. 89.
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