Pular para o conteúdo principal

O paradoxo do Natal

Pe. Geovane Saraiva*

Tem muita gente ansiosa e irrequieta, com água na boca e com o pensamento nas iguarias da ceia de Natal. Por outro lado, são muitos os presépios das praças, também muitos deles encontrando-se amparados pelas sombras dos viadutos, lá embaixo, com crianças aos molambos, ou esfarrapadas, pessoas sujas ou aos trapos. Aos irmãos aqui da Praça da Igreja, na Parquelândia, não lhes negamos um banho nas dependências da paróquia, e nem baldes de água, igualmente eles todos sedentos.

Em uma ocasião, há anos, escutei os empobrecidos se queixando e lamentando por que o “seu” bom bispo ia deixar a diocese, ao completar 75 anos: “O que vai ser de nós?”. Na sólida confiança de que a justiça florirá, com paz em abundância (cf. Sl 71), quero ver e ouvir, hoje, gestos de solidariedade da parte dos bispos, “pastores e pais”, todos na mesma oração e no mesmo poço, ou fonte, inexaurível e interminável, mas a partir da máxima: “Vem, Senhor Jesus!”.

Maria quer nos ensinar, quer abrir nossos olhos, no ousado sentido do veneno da serpente, desejando ir muito além da nossa condição humana, impondo limites ao projeto salvífico de Deus, visível na infidelidade humana, mas que Deus não desiste de acreditar em suas criaturas, por ele criadas, como na proposta de felicidade, encarnada na maior dádiva do céu: seu Filho, na anuência de Maria.

Urge dizer um não ao fechamento e à cegueira espiritual, que têm como origem nossa falta de solidariedade e insensibilidade à dor humana, num mundo tão diverso, contrariando-se diante da vontade de Deus, na luminosidade do acreditar, a partir da nascente cabeceira, ou manancial, inesgotável de Maria. Ela quer nos ensinar que a verdadeira felicidade consiste, além da doação, em esperar, deixando a condução para Deus, como na lição de sua Santa Mãe, na busca coerente e irrepreensível, aos olhos da fé na verdadeira vida.

Neste tempo de Natal, enviamos saudações ou preparamos presentes: os melhores desejos devem ser pensados e feitos com amor verdadeiro, e os presentes devem ser feitos sem esperar que sejam retribuídos. Isso também nos ajudaria a viver o Natal com alegria, porque há mais alegria em dar do que em receber (cf. At 20, 35). Assim seja!

*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

Comentários