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Educação e espiritualidade ecológicas a partir do cap VI da “Louvado Sejas” de Francisco

Alvim Aran*

 O Papa Francisco critica o modelo de vida consumista que vivemos fruto de uma ideologia capitalista. A educação ecológica juntamente com a espiritualidade cristã, como nos aponta o papa, parte do pressuposto que temos o dever de nos questionar sobre o modo de vida alienado que vivemos. Com efeito, diz A286 que um marketing bem elaborado faz <<mãe e filha ver em mc lanche presente de aniversário>>, ora, os meios de comunicação nos empurram e nos fazem pensar que precisamos de coisas materiais. Mas nem sempre, geralmente consumimos por ego e vaidade. 

A alienação se torna tão forte em nosso meio que nos faz crer que somos livres para comprar qualquer coisa. No entanto, como diz Francisco: “apenas a minoria que detém o poder econômico e financeiro possui a liberdade” . Falar em ecologia, também é falar dos pobres e para os pobres, pois são esses que formam a base de toda a sociedade e que mantém o mercado financeiro em movimento. Seja pela aquisição de móveis, alimentos, roupas ou vendendo a força de trabalho para grandes empresários. Não existe bem comum, o que existe é o bem individual fruto de uma sociedade marcada pelo acúmulo, o que nos torna seres isolados do outro, sem percepção de mundo.  

Este isolamento, material e intelectual, que nos é imposto sem nossa percepção nos fazem almejar o fator econômico, ou seja, o capital em detrimento do respeito e conservação do meio ambiental. Citarei como exemplo as grandes mineradoras que, indo ao encontro de pequenas cidades, prometem empregos e uma boa condição de vida para quem habita esses lugares. Mas esses empresários, funcionários da desgraça, não mostram como isso irá danificar o meio ambiente, tais como: o solo, a água, a mata, os animais, etc. Quando se termina de extrair tudo de uma área essa firma procura outros lugares para se hospedarem, são parasitas. E aquela cidade que acolheu tal indústria acaba ficando esquecida, em suma, levará anos e anos até essa se reestruturar novamente.  

Isso nos mostra que nem tudo está perdido, como nos diz Francisco, o ser humano tem a capacidade de observar essas coisas que estão acontecendo e lutar para saná-las. Voltemos ao título, isso dependerá de uma educação ecológica. Uma mudança no estilo de vida, acabar com nossa estrutura há muito ultrapassada, e buscar uma nova. Essa mudança parte do pequeno, da base, e sendo base, implicará na mudança de quem está no topo. Ora, eles só fabricam, pois nós consumimos. Se pararmos de consumir não irá ter fabricação. Não irão produzir algo que não está dando lucro, irão procurar produzir o que o ser humano acredita ser bom para si. O mercado se adapta ao consumidor alienado, aliás, o consumidor se adapta ao mercado pela alienação. Mas para isso é preciso superar o individualismo, é necessário coletividade para romper com essa estrutura capitalista, pois quando isso acontecer poderemos “desenvolver um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade” .  Mudança essa que irá nos educar para que possamos formar uma aliança entre a humanidade e o meio ambiente, pois, como diz Leonardo Boff: “O bem-estar da terra é o nosso bem-estar”, se a terra está mal, nós também estamos, e é triste pensar que precisamos passar por situações como a escassez de água, queimadas e a perda da fauna e flora para chegarmos a essa conclusão, e continua L. Boff: “mais que a admiração é o sofrimento que nos faz pensar”. 

E esse sofrimento vem produzindo em alguns jovens a capacidade de analisar todo o mal que a perda de consciência acerca da natureza vem causando. Mas existe certo impasse nisso tudo, pois por um lado, como aponta Francisco, os jovens têm uma sensibilidade ecológica, entretanto cresceram num ambiente consumista “que torna difícil a maturação dos hábitos” (FRANCISCO, 2015, p.122). A razão dessa dificuldade é encontrada pela forma que se é passada as informações. Entende-se que não é mais possível tolerar a forma que tratamos o meio ambiente, mas as reflexões não passam disso. Não tem caráter mutativo, ou seja, não é capaz de gerar uma mudança pessoal. 

Essa mudança começa do indivíduo até chegar ao universal. Atitudes simples que podem levar os outros a mudar de hábito também, como um esquema de pirâmide. Exemplos simples que podem mudar muitas coisas, “tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, separar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar arvores, apagar as luzes desnecessárias...” (FRANCISCO, 2015, p.123). Mas assim como uma semente jogada no chão para germinar, essas atitudes levarão algum tempo para fazer efeito. Mas farão, por isso é importante tomarmos essa consciência agora. 

Uma atitude consciente voltada à educação adulta, mas principalmente à conscientização das crianças. E uma educação desde novo gerará ótimos frutos, então compete à família, a escola, a sociedade e a Igreja também. A família como berço, deve dá os primeiros passos para uma educação em todos os aspectos. A escola mostrar como a falta de educação com meio ambiente vem nos prejudicando. A sociedade será reflexo dessa educação. E a igreja deve zelar pelo meio ambiente como nos ensina o mito de Adão e Eva, onde Deus dá poder ao homem de cuidar de toda a criação. 

Percebemos então que essa mudança de hábito e conversão ecológica “é também uma conversão comunitária.” (FRANCISCO, 2015, p.127). Precisaríamos de uma comunhão universal, e aqui me refiro a todas as espécies viventes. Nós seres humanos temos um ego tão alto que nós nos colocamos acima de todas as outras criaturas. E num momento em que a razão domina, aparece um homem que tem muito a nos ensinar, Francisco de Assis. E esse nos mostra que mais que a razão, o que une todas as espécies é o sentimento. Um sentimento de busca e proteção da própria vida. 

Por mais romântica que possa ser essa ideia de Assis, podemos notar uma eximia preocupação com nossa casa comum, nossa mãe terra. A natureza foi dominada e quantificada. Tudo é número e valor financeiro. Sejam os rios, que agora se tornam represas para gerar energia, e também atuam nos minerodutos. Sejam as florestas, que se tornam pasto e plantação de eucalipto para produção de carvão. Sejam os animais, que se tornam mercadoria e objeto em nossas mãos. 

E com isso paramos de contemplar a natureza, não vemos mais as belas montanhas, os bosques, os rios e cachoeiras, em suma, não contemplamos o Criador na criação. A natureza se torna um cenário que o homem molda a seu bel-prazer. Isso é triste, e nos leva a outra reflexão. Não é possível fugir do mundo, pois esse é nossa realidade histórica. Então temos que buscar uma forma de conciliar a fé e o trabalho social. 

Por fim, é importantíssimo discutir o tema ecológico, pois, querendo ou não, isso irá afetar as gerações futuras. A tomada de consciência sobre o planeta, nossa casa comum, é fundamental na construção de um mundo sustentável. A visão que tínhamos de natureza antigamente não pode vigorar mais, visão essa que consistia na ideia da natureza existir para servir o homem. No entanto, isso não pode continuar, esse pensamento deve acabar de vez. Ora, o homem, como expressão consciente do planeta, mais que qualquer criatura, deve tomar para si o compromisso de cuidar da mãe terra. Louvado Seja o Senhor Deus do Universo. 

*Aluno de 2º ano de Filosofia, Seminário Maior de Diamantina-MG 

Referências

 A286, Rafix Rap.13 – No silencio das rosas. Youtube, 10/02/2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IG0HwTFTI6s>. Acesso em: 20/10/2021.

 FRANCISCO. Louvado Sejas: sobre o cuidado com a casa comum. São Paulo: Edições Loyola, 2015. 

 BOFF, Leonardo. A terra na palma da mão: Uma nova visão do planeta e da humanidade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2016.

 ALVARENGA, Helder. Ecologia, animais não humanos e fé cristã: o que o Pantanal tem a nos dizer?. 2020. Disponível em: < https://domtotal.com/noticia/1475508/2020/11/ecologia-animais-nao-humanos-e-fe-crista-o-que-o-pantanal-tem-a-nos-dizer/>. Acesso em: 20 out. 2021.


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