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A importância das imagens

Por Alvim Aran*

Ler é de suma importância para exercitar a mente, assim como um atleta treina o corpo para obter um melhor desempenho em uma competição, a leitura é um importante treino para manter a mente ativa e funcionando bem. E nesta vida marcada por belos livros, me deparei com a obra “Drácula” de Abraham Bram Stoker, um romance gótico antigo, de 1897. Mas nosso intuito aqui não é aprofundar na obra, mas apenas deter em um trecho que nos chamou a atenção. 

Durante a leitura dessa obra esplêndida, nos deparamos com uma passagem, uma cena que levou a uma reflexão profunda sobre a importância das imagens, ícones e símbolos presentes em nossa sociedade, principalmente no nosso campo religioso de cristianismo, mais especificamente, o catolicismo romano. 

Narraremos um pequeno trecho do livro de Bram Stoker, sem muitos detalhes, para não atrapalhar a experiência de quem pretende lê-lo pela primeira vez. Ao chegar na cidade de Bistrita, nosso personagem, Jonathan Harker, fica numa pousada até partir para seu destino, o castelo de Conde Drácula, localizado na Castlevania. 

Ao partir para o encontro do conde, Harker recebe um crucifixo de uma senhora, mas como é anglicano, fica receoso em aceitar, pois, segundo a sua tradição, é idolatria carregar imagens. No entanto, ele é visitante naquela cidade, então aceita o presente de bom grado. 

Esse crucifixo fica com ele durante algum tempo da viagem. No castelo de Drácula, Harker, se sente sozinho e amedrontado, preso num lugar desconhecido e com um “homem” desconhecido. Então, Harker, se lembra do crucifixo que trazia no peito e toca-o, fazendo então um questionamento que nos fez chegar a este escrito, eis o trecho extraído da obra:

Todas as bençãos para aquela boa, bondosa senhora que pendurou o crucifixo no meu pescoço! Pois ele me dá força e conforta sempre que o toco. É estranho como uma coisa que fui ensinado a considerar com desagrado e como idolatria seja, em momento de solidão e dificuldade, uma fonte de ajuda. Será que há algo na coisa em si, ou será ela um meio, uma ajuda tangível, na transmissão de lembranças de simpatia e acolhimento? (STOKER, 2020, p. 34).

Os símbolos sempre estiveram presentes nas diversas culturas mundo afora, e em nossas vidas. Na religião não é diferente. Quando entramos numa Igreja Católica é comum vermos várias imagens de santos e santas. Essas imagens servem para ensinar, para nos aproximar do sagrado que é representado por tais ícones, como diz Harker, é “uma ajuda tangível” que nos ajuda “na transmissão de lembranças”. 

Essas lembranças nos chegam de um culto religioso, da família ou grupo de amigos, quando guardamos uma fotografia de um ente querido ou uma reunião com as pessoas que gostamos. Sabemos que ali não está a pessoa em si, mas nos lembra quem foi aquela pessoa ou nos remetem uma experiência vivida. Quando, a título de exemplo, vemos uma imagem de São Carlos de Foucauld, e lembramos de sua missão incrível nessa terra seguindo os passos de Jesus. 

E essa lembrança deve nos levar à reflexão sobre tudo que a pessoa representada na imagem viveu, e isso deve nos fortalecer em nossa caminhada. Mas as imagens não são consideradas idolatrias, como acreditou o personagem? Bom, a resposta é não. Idolatria, de forma resumida é quando colocamos algo no mesmo nível de Deus, como fez os hebreus no deserto com bezerro de ouro (Ex 32, 1 – 6). 

Ao se produzir um ícone da virgem Maria, são Francisco de Assis, Sagrado Coração de Jesus, não se pretende colocar tais imagens ao nível de Deus, mas antes, fazer com que essas nos remetam a um estado de contemplação rememorando tudo que tais santos e santas fizeram. Com isso deixamos o número 2132 do Catecismo da Igreja Católica (CIC):

O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada». A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve: «O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem».

Quando Jonathan Harker se viu sozinho, lembrou da bondosa senhora que deu a ele aquele crucifixo. Quando nos sentimos sozinho e temos ao nosso lado uma imagem de um familiar, santo, ou mesmo a Bíblia, lembramos que não estamos sozinhos, ainda mais quando é um presente, como uma imagem de Carlos de Foucauld feita por uma irmã que ganhei durante um retiro (Final do texto).

Sempre que vejo essa imagem me recordo daquela semana sensacional em que conheci pessoas incríveis. A imagem não é usada como idolatria, mas no mesmo sentido de Harker, no mesmo sentido que ensina o CIC, algo que nos leva a refletir sobre o passado, no caso religioso, a rezar, fazendo memória do amor de Deus pela humanidade. 

Recordar é viver, relembrar bons momentos que nos acompanham para toda a vida. E as imagens que temos dos santos, de nós e nossos familiares servem para nunca esquecermos que temos sempre pessoas olhando por nós. As imagens que temos do sagrado servem para nos recordar nas noites mais escuras de nossas vidas, que temos um Deus que sempre olha por nós. 

Por fim, se fosse errado fazer imagens, Deus não nos teria feito a sua imagem e semelhança (Gn 1, 26). São Carlos de Foucauld, nosso irmão universal, rogai por nós. 

*Aluno de 3º ano de Filosofia, Diocese de Guanhães, Seminário Maior de Diamantina-MG.


REFERÊNCIAS 

STOKER, A. Bram. Drácula. 1° Edição. Jandira – SP: Principis, 2020.

*Aluno de 3º ano de Filosofia, Diocese de Guanhães, Seminário Maior de Diamantina-MG.


Comentários

  1. Muito bom, parabéns.

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  2. Parabéns. Que Deus continue derramando copiosas graças e bênçãos sobre você e te dando muita sabedoria

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