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Quem é meu próximo?

Por Alvim Aran*

O evangelho contado por Lucas (10, 25 - 37) começa com um Mestre da Lei querendo colocar Jesus em dificuldade, então o Mestre de Nazaré, de forma sábia, como sempre faz, responde fazendo perguntas, e após ouvir a indagação de Jesus, o mestre da lei responde aquilo que é a base para todo cristão, isto é, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo (Lc 10, 26), Jesus concorda com a resposta dada, e o mestre da lei o interroga novamente: “quem é meu próximo?”.

Essa pergunta norteará nossa reflexão a luz da parábola do bom samaritano que Jesus conta para explicar ao Mestre da Lei o questionamento feito. Um homem que ia viajar, e na estrada sofre um assalto e fica jogado para morrer, passam por ele um sacerdote, um levita e um samaritano. Uma parábola conhecida por todas e todos que tem uma vivencia eclesial, mas que ainda não foi colocada em prática por muitas e muitos.

Foi o samaritano quem ajudou o homem, tanto o sacerdote, quanto o levita passaram direto e deixaram o assaltado para morrer. O sacerdote conhecia bem a lei e os mandamentos de Deus, assim como o levita, no entanto não tinham essa lei no coração. Se preocupavam com as tradições e esqueciam de ajudar o próximo, o templo era mais importante. O que isso quer nos dizer?

Essa parábola tem a nos ensinar o compromisso com nossas irmãs e irmãos que sofrem de diversas formas dentro da sociedade, com o avanço de políticas de morte, o descaso com os mais vulneráveis, os idosos (como Papa Francisco vem insistindo), as crianças abandonadas, ódio contra os movimentos populares, etc. Todos ao nosso redor são os próximos que devemos ajudar, independentemente da religião, orientação sexual, classe, cor, etc.

Ainda mais forte é a crítica feita por Jesus, se pensarmos bem e voltarmos ao texto, veremos que o sacerdote passou direto, isto é, o líder religioso daquela época. A história se repete, quando líderes religiosos não se importam com os sofrimentos das pessoas mais vulneráveis? Quantos e quantas estão mais preocupados com templo ou com outros afazeres que esquecem do templo vivo que somos.

A parábola ainda vai mais além, o bom samaritano não se preocupou somente com o agora, mas também com o depois, isto é, pagou tudo que o homem precisou e disse que pagaria o que fosse gasto a mais quando voltasse (Lc 10, 35). As vezes falta isso em nós, não aprendemos muito com as parábolas de Cristo, que a luta pela construção do Reino de Deus no meio de nós.

Mas para isso acontecer, irmãs e irmãos, é de suma importância nos ocuparmos com a lei que Deus quer instaurar em nossos corações (Ez 36, 26 - 28), essa lei é a mais importante, pois é partindo dela, é pelo coração de carne que Deus quer nos dar que seremos mais humanos, e é para nos tornar humanos que Jesus veio até nós, tendo em vista que o pecado é aquilo que nos desumaniza.

Não adianta conhecer a doutrina, não serve de nada conhecer de cor e saltado o catecismo da Igreja, se a celebração está bonita, se tem muitos panos, muitas rendas, se a Igreja está bem ornamentada, se antes disso tudo não se preocupar com o irmão e irmã que sofre.

Vamos ilustrar melhor, existe uma Missa Sobre o mundo, uma ideia que tiramos do padre Teilhard de Chardin. Quando um irmão sofre, toda a comunidade sofre, ou seja, a celebração eucarística, por ser a festa da comunidade, deve acoplar tudo que ocorre no mundo. Se um irmão está com fome, é responsabilidade nossa dar ele de comer, e isso é uma ordem do próprio Jesus (Mc 6, 37). Se um irmão sofre injustiças é nosso dever lutar para que esse tenha justiça, ainda sim, é o próprio Mestre de Nazaré que nos manda (Mt 5, 6).

Jesus, com a passagem do bom samaritano, quer nos ensinar a ter compaixão, isto é, compadecer com o outro. Quem é meu próximo? Uma pergunta subjetiva, isto é, cada um e cada uma pode dar uma resposta diferente. Meu próximo pode ser meu vizinho e minha vizinha que precisa de um ombro amigo para conversar, pode ser aquele que precisa de uma cesta básica, ou então, aquele que é afetado por uma necro-politica promovida pelos políticos defensores da elite.

Olhemos, irmãs e irmãos, para Jesus Cristo e com Ele aprender a ter compaixão. A deixar que Deus monte base em nosso coração e instaure seu Reino em nós, para sermos reflexo desse Reino no mundo. E acabar com tudo que coopera para a destruição do mundo em geral, do ser humano e de toda nossa casa comum.

São Carlos de Foucauld, nosso irmão universal, rogai por nós!

*Seminarista da Diocese de Guanhães, 3º ano de Filosofia, Seminário Maior de Diamantina-MG.

Comentários

  1. Parabéns pela exortação. Que nosso próximo esteja sempre em nossas conversações. E que independente de políticas, sejamos o bom samaritano onde as mesmas não chegam.
    Paz e bem e salve Maria

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  2. Q sejamos bons samaritanos....

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