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DECRETO PRESBYTERORUM ORDINIS: O CUIDADO E A FORMAÇÃO PERMANENTES DO CLERO

João Robson Cabral ⃰

Resumo

O presente artigo tem como objetivo revisitar o Decreto conciliar Presbyterorum Ordinis em face dos grandes desafios inerentes à vida pessoal e missionária do clero no mundo contemporâneo. Está dividido em três partes fundamentais, a saber: As apreciações do Decreto, Pastoral do cuidado e Formação imbricada no cuidado. A pesquisa enseja uma releitura conciliar, a fim de auxiliar no pensamento sobre a real necessidade de cuidar dos presbíteros, a partir do Seminário, a partir da diocese, da comunidade paroquial e, sobretudo, a partir do próprio presbítero, de modo que esse cuidado, seja uma incumbência de todos. Urge recordar que o presbítero, antes de ser ordenado, é cristão e, antes disso, é pessoa humana cercada de vulnerabilidades. A leitura imanente do decreto Presbyterorum Ordinis e de outras obras primárias: Presbyterorum Ordinis: texto e contexto de Manoel Godoy e Padres e bispos autoanalisados de João Mohana, afora outras obras secundárias, ajudarão a fim de robustecer a reflexão aqui empreendida.

Palavras-chave: Cuidado. Decreto. Presbítero. Formação. Seminário.

Abstract:

The article aims to revisit the conciliar Decree Presbyterorum Ordinis, in view of the great challengs inherent in the personal and missionary life of the clergy in the contemporary world. It is divided into three fundamental parts, namely: The appreciations of Decree, Pastoral Care and Training intertwined with care. The research gives rise to a conciliar readin, in order to help in thinking about the real need to care for the priests, from the Seminary, the diocese, the parish community and, above all, from the priest himself, so that this care is a everyone’s business. It is urgente to remember that the priest, before being ordained, is a Christian and, before that, he is a human person surrounded by vulneralilities. The imanente Reading of the Presbyterorum Ordinis decree and other primary Works: Presbyterorum Ordinis: text and contexto by Manoel Godoy and Fathers and bishops self-analized by João Mohana, in addition to other secondary Works, will help to strengthen the reflection undertaken here.

Key words: Care. Decree. Clergy. Formation. Seminary. Introdução

O escopo desta pesquisa é a vida presbiteral à luz do decreto Presbyterorum Ordinis, doravante indicado pela sigla (PO). Nas três partes do trabalho, queremos

⃰ Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Filosofia da Religião pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF). Artigo elaborado como conclusão da Especialização Escola de Formadores de Presbíteros pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF).

 mostrar, ainda que resumidamente, os trâmites do Concílio, depois, a importância do escrito conciliar quanto aos cuidados de forma integral, especificamente no que se refere à saúde e a formação permanentes do presbítero no mundo hodierno. Afora a leitura imanente do Decreto Presbyterorum Ordinis, pretende-se lançar mão de outras obras tais como: Padres e bispos autoanalisados de João Mohana e Presbyterorum Ordinis: texto e contexto de Manoel de Godoy, A arte de formar-se de Libânio etc, a fim de corroborar o tema do cuidado e da formação presbiteral enquanto proposta basilar do Decreto.

Publicado entre 1962 a 1965, aos moldes do Concílio Vaticano II, o decreto Presbyterorum Ordinis apresenta o presbítero na identificação com o Cristo enquanto sacerdote, profeta e rei, e o que é necessário para ter êxito nesse empreendimento. O documento conciliar (PO) dedica densas páginas sobre a vida do presbítero na etapa pós- ordenação, propondo um aggiornamento em razão das constantes mudanças.

[...] quanto mais célere é o ritmo das mudanças, quanto mais vastas são as áreas das metamorfoses, tanto mais flagrante se torna a inadequação que provocam. É um fenômeno comum. Atinge todos, em menor ou maior grau. Tanto no plano das ideias quanto na ordem das vivências, tanto na vida psíquica e espiritual quanto na vida social e temporal. Eis uma das razões pelas quais a hodiernização, o aggiornamento, de que falou João XXIII, é um estado comum, habitual a todo homem, não só a todo padre que viva em períodos históricos de transição. Do contrário, numa bela manhã ele abre os olhos sentindo-se um ser pré-histórico. (MOHANA, 2004, p. 117)

O texto na sua completude demonstra a preocupação da Igreja com o sacerdote para além da formação recebida no seminário. Embora não se possa garantir o futuro, PO aponta meios utilíssimos, ao longo de seus três capítulos e suas partes respectivas, para que o padre, então devolvido ao povo, conduza sua missão enquanto ministro anunciador da palavra de Deus, sem esquecer, ao mesmo tempo, que ele é ser humano e guardião espiritual das coisas que pertencem a Deus (PO, n.3).

As apreciações do Decreto

Antes de ser aprovado pelo Concílio, o referido decreto passou por várias análises até receber o nome atual. O texto sobre a vida e o ministério presbiteral enfrentou inúmeras modificações entre a comissão de redação e as aulas conciliares até alcançar a versão definitiva, no entanto, mesmo com toda boa intenção e rigor teológico, não atendeu a contento às expectativas dos padres, naquele tempo e hoje.

Durante a discussão e escrita do decreto surgiram muitos descontentamentos, alguns deles aqui expostos, apresentados por Godoy, a fim de ilustrar o caminho sinodal de elaboração do documento que privilegia a vida e o bem-estar do presbítero na Igreja:

O modo paternalista de falar não se harmoniza absolutamente com o modo teológico e verdadeiramente pastoral dos demais esquemas e não raramente estabelece para os sacerdotes coisas que não ousamos estabelecer para nós mesmos, como, por exemplo, as questões da pobreza, da vida comum, da fuga da vaidade, da simplicidade do vestir, da procura de títulos. (GODOY, 2012, p.6)

Além do ponto de vista de Dom Fernando Gomes, na época arcebispo de Goiânia, outro discurso que caracteriza o processo de elaboração do decreto é o do cardeal belga Suenes. Segundo ele,

O texto não corresponde suficientemente às generosas aspirações dos nossos sacerdotes, pois seu modo de falar é abstrato e intemporal, referindo-se não poucas vezes a um regime de cristandade já em vias de desaparecimento. É um texto sem sobriedade, sem energia e sem virilidade. (IDEM, 2012, p.6)

Nesse cenário veio à tona também a opinião de um brasileiro, à época, bispo de Lins, Dom Pedro Paulo, a respeito do celibato, referindo-se à enorme área desassistida pela Igreja em razão da carência de sacerdotes:

Já agora perdemos anualmente um milhão de almas da América Latina e no Brasil diariamente mil pessoas abandonam a Igreja. Donde tiraremos sacerdotes para os 200 milhões de brasileiros no fim do século, daqui a 35 anos? O povo tem direito de receber o Evangelho e a vida sacramental. Trata-se de um direito divino que não pode ser anulado por nenhuma lei humana e que a Igreja, por justiça, tem obrigação de respeitar. (GODOY, 2012, p.8)

Além do conteúdo, o título do decreto, de igual modo, foi amadurecendo paulatinamente. Inicialmente, o que seria chamado de Presbyterorum Ordinis, teve o nome de De Sacerdotibus, depois, De Vita et Ministério Sacerdotali, em seguida adotou- se o título de De Ministerio et Vita Presbyterorum até ser definitivamente acolhido como Presbyterorum Ordinis (GODOY, 2012).

Superada toda esta discussão de aprimoramento, o decreto Presbyterorum Ordinis dividido em três capítulos, a saber, O presbiterato na missão da Igreja, O ministério dos presbíteros e A vida dos presbíteros, começa explicitando seu objetivo fundamental: “[...] Em virtude desta Ordem ter uma parte sumamente importante e cada vez mais difícil na renovação da Igreja de Cristo, pareceu muito útil tratar dos sacerdotes com mais amplitude e profundeza” (PO, n.1). Passados 57 anos do Concílio Vaticano II,

é notória a atualidade do decreto na aplicação da vida sacerdotal e seu respectivo ministério. A ordem presbiteral e a necessidade de renovação na vida da Igreja, alcançam a proposta primeira de todo o Concílio Vaticano II e justificam o mesmo decreto.

A formação permanente, enxertada no cuidado e no acompanhamento espiritual e pastoral, contidos no documento, demonstra, também, a necessidade de renovação da Igreja, implicando diretamente no cuidado do clero, inclusive, os párocos que lidam diretamente com as pastorais, grupos e movimentos em um determinado território paroquial, espaço cada dia mais fragmentado em diferentes aspectos. Segundo Godoy, passados todos esses anos o decreto é melhor recebido diante do atual cenário, sobretudo aqui no Brasil, pois

[...] temos um panorama bastante mudado [...] os presbíteros são mais brasileiros, diocesanos e jovens. No total há mais de 22 mil presbíteros buscando dinamizar as quase 11 mil paróquias com mais de 100 mil comunidades cristãs espalhadas pelo território brasileiro. Na múltipla maneira de exercer o ministério, emergem os padres da paróquia, da educação, do movimento popular, dos seminários e tantos outros fazendo na sua vida a recepção do Decreto Conciliar Presbyterorum Ordinis. (GODOY, 2012, p. 9)

A Pastoral do cuidado

As casas de formação têm a melhor intenção em constituir excelentes sacerdotes, diligentes pela pastoral sem esquecer da vida espiritual sem a qual não ocorre a missão. Entretanto, hoje, verificamos que além desses dois aspectos (espiritual e pastoral) outros cuidados são necessários na missão do pastor. A formação se pauta na dimensão intelectual, humano-afetiva, comunitária e não poderia ser de outro modo, pois cada vez mais o mundo está carente de humanização. Quem cuida de um povo, de igual modo, deverá ser cuidado. Esta preocupação se aplica aos presbíteros que há um certo tempo, longe do seminário, gastam o seu batismo, seu ministério, suas energias a serviço da evangelização, o que fomentou a Pastoral do cuidado:

[...] acreditamos que a Pastoral do cuidado presbiteral vem se constituindo numa concreta recepção do espírito conciliar presente não só no Decreto sobre o ministério e a vida dos presbíteros, mas também nos documentos principais que tratam da vida da Igreja e de outros ministérios. A recepção do documento em questão não está completa e nem terminada. (GODOY, 2012, p. 28)

No seminário os formadores cuidam dos seminaristas, porém, uma vez que esses são lançados no trabalho paroquial, tal cuidado não pode desaparecer, pelo contrário, deve ser intensificado. A diocese é de responsabilidade dos bispos que com a


colaboração dos presbíteros cuidam da porção do povo de Deus naquela igreja particular. Desse modo, se o bispo recebe dos presbíteros a ajuda a fim de cuidar das ovelhas, estas, de igual modo, bem como os bispos, devem compreender que de forma recíproca o cuidado com seu pastor é imprescindível. Este cuidado presbiteral requer, inclusive, a participação dos leigos em orações e obras a fim de que os padres cumpram mais frutuosamente os seus deveres (PO, n. 9) sem descuidar sua humanidade:

Como todo ser humano, somos pessoas em permanente construção: antes de sermos padres, devemos ser cristãos; antes de sermos cristãos, devemos ser gente. Diante do Cristo seremos sempre discípulos e aprendizes. Precisamos cuidar da pessoa do padre, porque ele estando bem, terá mais chances de cuidar melhor dos que lhe forem confiados. (IDEM, 2012, p. 35)

Vivendo o celibato sacerdotal, portanto, sem constituir família, logo livre para melhor servir ao rebanho, o sacerdote bem assistido pela Pastoral Presbiteral, como bem pede o Decreto, poderá ter vida saudável:

[...] todos os religiosos, homens e mulheres, como parte muito excelente da casa do Senhor, são dignos de cuidado especial, para seu proveito espiritual em benefício de toda a Igreja. Finalmente, sejam os mais solícitos possível com os doentes e moribundos, visitando-os e confortando-os no Senhor. (PO, n. 6)

No entanto, é indispensável lembrar que apesar de todos os esforços do Decreto Presbyterorum Ordinis, fomentador da Pastoral do cuidado, “o primeiro responsável pelo cuidado do presbítero é ele mesmo. Deve evitar a tentação do isolamento, do desleixo com sua pessoa, com sua saúde e com seu crescimento pessoal” (GODOY, 2012, p. 30).

O alerta sobre o cuidado de forma integral é uma reivindicação do Decreto para todos os presbíteros, não importando a faixa etária, pois cada idade tem suas limitações e sonhos e, portanto, tal zelo é necessário para o bom êxito na tríplice missão de ensinar, santificar e apascentar o rebanho. Aquele que ensina, santifica e apascenta também deve receber da Igreja os mesmos cuidados, logo, esta ação deverá ser sempre recíproca: do povo para com o pároco e dele para com o rebanho.

Diante dessa preocupação, verificamos alguns problemas, apontados por Godoy, nas mais diferentes idades do clero. Não temos aqui a pretensão de explicitá-los nem mesmo de forma breve, mas apenas elencá-los como os mais recorrentes:

Isolamento e acomodação, dificuldade de articulação e de integração à Pastoral de Conjunto; estrutura rígida e clericalista das paróquias; clericalismo, ritualismo, autoritarismo, espiritualismo de muitos presbíteros; resistência à comunhão, desinteresse pela colegialidade; espírito de competição, busca de status e de privilégios; falta de

solidariedade com os presbíteros que erram, bem como a ausência de tratamento adequado nessas ocasiões; imaturidade, narcisismo, prepotência; sérios bloqueios no relacionamento interpessoal; desequilíbrio afetivo-emocional; dependência química, sobretudo do álcool; problemas na própria identidade sexual; ausência de reflexão séria e corajosa de todos sobre afetividade e celibato; formação filosófica e teológica deficitárias; seminários limitados, problema na seleção de candidatos; seminaristas egressos sem respeito as normas e orientações da Igreja, pouca atenção à formação permanente; fraca aproximação entre presbíteros diocesanos e religiosos; congregações que formam guetos dentro da Igreja local; presbíteros de movimentos que pouco se interessam pela pastoral diocesana; falta de critérios na mudança de párocos e de formadores, comprometendo a continuidade do processo; presbíteros que não têm estabilidade no trabalho – “voadores”; presbíteros envolvidos em negócios escusos; alguns enfeitiçados pela mídia; outros sem critérios nas suas alianças e parcerias; desânimo pela missão. (IDEM, 2012, p. 35-36)

Além desses problemas, comumente, atribuídos ao clero jovem, há também outra demanda que atinge os padres mais veteranos: a virada para dentro de si mesmo; uma nova percepção do corpo e do tempo; a comparação com outras idades; o nascimento da morte; um novo sentido para a existência (GODOY, 2012).

Afora essas dificuldades, típicas dos padres jovens e de meia-idade, João Mohana, estudioso da psique humana presbiteral, mostra alguns tipos de personalidade que, embora identificadas na formação, poderão acompanhar o presbítero ao longo da vida pessoal e pastoral. Ele elenca sete categorias: o tipo tarefista, o pietista, o lunático, o hermetista, o antista (do contra), o vitimista e o satanista (pudor exagerado) (MOHANA, 2004).

Vivemos em um tempo no qual as pessoas são vítimas do ativismo, das comunicações apressadas, das fugas, dos vícios, das relações virtuais e frias, da falta de compromisso, o que repercute nas assembleias litúrgicas de fieis sem sentido de pertença paroquial ou a gosto do freguês, como é o caso da pastoral nas grandes metrópoles: as pessoas escolhem o padre e a missa do seu interesse. Esta ausência de compromisso com a comunidade, o individualismo e a indiferença também se refletem nas escolas, na vida matrimonial etc. Reconhecidamente, este não é um cenário somente da pastoral urbana, mas também já é uma realidade nas paróquias interioranas, por conta da chamada aldeia global em que todos se conectam ao mesmo tempo de modo muito veloz pela internet. Neste cenário, surge o padre tarefista. Ele se entrega de corpo e alma à missão, supervaloriza o social, o temporal, nunca se recolhe antes das 23 horas. Ele é professor, pároco, vigário geral, responsável pela direção hospitalar e acompanha determinado grupo pastoral diocesano. Desse modo, o presbítero tarefista adia o encontro com Deus

sempre para o dia vindouro, o Cristo sacramentado fica permanentemente à espera. Ele age como uma máquina que funciona no automático e esquece da mística sacerdotal. Aos poucos vai-se esvaziando e tornando-se o executivo do sagrado.

O individualismo também tem se revelado o grande obstáculo para a pastoral de conjunto, sepultando esforços feitos na elaboração de planos de pastoral. Muitas vezes, encontramos padres muito bons, mas agindo isoladamente e desgastados pela gigantesca demanda de tarefa que se lhe apresenta, no seu dia a dia. (GODOY, 2012, p. 104)

Quanto ao pietista, este transita entre a sacristia e o altar. Mergulhado na mística que não se encarna com a realidade, fazendo uma pastoral alheia aos anseios e clamores sociais inerentes à condição humana. O pietista, segundo a psicologia é aquele que em casa, no seminário e

[...] nos recreios sentia-se constrangido, porque sua chegada às rodas parecia trazer gelo, o calor da conversa parecia arrefecer, ou não lhe prestavam atenção, e uma vaga sensação de mal-estar pairava no ar... Isto o fazia desejar retirar-se pouco depois de ter chegado. Um dia, após o jantar, na visita ao Santíssimo, teve a ideia de não sair com os colegas, precisamente para vasculhar tentativas de solução do problema. Foi quando olhou a via-sacra, e sentiu vontade de rezá-la. Em plena digestão começa a dolorosa peregrinação. No dia seguinte a repete. E fica repetindo, porque é uma maneira de não enfrentar o recreio, de não se defrontar com a inferioridade. (MOHANA, 2004, p.113)

O pietista é, portanto, aquele tipo que se esconde atrás da religiosidade, da oração e devoção constantes, faz o percurso da casa paroquial para o templo diariamente, a fim de livrar-se de um problema não trabalhado devidamente, a rejeição.

Quanto ao lunático, esse tipo é assim chamado por se parecer com as fases da lua. O presbítero lunático é aquele que muda de ideia e planos a todo instante e por isso tem dificuldades em concluir o que havia começado. Este tipo de personalidade é representado pelo padre que nem inaugurou uma obra, já inicia outra. A raiz desse problema emerge na conhecida inferioridade geral, motivada por carência de simpatia pessoal, suspeitada desde o lar (MOHANA, 2004). Trata-se de um complexo não resolvido no seminário. Na tentativa de superar o complexo pretende mostrar a si mesmo que não é esse antipático, ainda que seja através da admiração proativa paroquial.

O presbítero hermetista é o que reprova as iniciativas de uma nova pastoral, censura as reuniões do clero, menospreza as ideias do bispo e as inovações pastorais nunca são acolhidas. É, portanto, o padre fechado a novos horizontes. Ele age do seguinte modo:

O consciente vê o Concílio, o inconsciente fareja as consequências do Concílio. E isso é tudo. Com retiros, com recolhimentos, com encontros. Porque o consciente tem olhos, o inconsciente tem radar. O consciente vê a atividade pastoral, o inconsciente vê o ter de estudar... Por isso, foge de programas pastorais como enguia em mão oleada. [...] E o desdém piora a situação, porque desliga quem precisa daquilo que precisa. (IDEM, 2004, p. 116)

O que se percebe é que o padre fechado desenvolve uma tendência ao isolamento e ao individualismo que por si só revelam uma doença emocional e, portanto, impedem a plena realização do seu ministério. Segundo o Decreto, “[...] Nenhum presbítero pode realizar suficientemente a sua missão, isoladamente, mas só num esforço comum com os outros presbíteros, sob a direção dos que estão à frente da Igreja” (PO, n. 7).

Opadrevitimista,porsuavez,ageportrásdeumamáscaraafimde justificar sua inferioridade. Segundo Mohana, alguns bispos que passaram até três anos na basílica de São Pedro sem conseguir vivenciar o espírito do Concílio Vaticano II, ilustram claramente este tipo de comportamento. Sem acolher o Concílio e suas mudanças, alegaram que o tempo deles havia passado ou que foram vítimas de uma formação mais conservadora e, portanto, ficava difícil digerir as propostas conciliares. Alegavam ainda a dificuldade em mudar, pois o que tinha sido feito com eles, na formação, ninguém desmanchava. É preciso afirmar que o vitimista “[...] só se esterilizará em lamentações improdutivas até o dia em que descobrir que dentro de todo Jeremias há um Esdras capaz de soerguer ruínas” (MOHANA, 2004, p.116).

Existe ainda o presbítero chamado antista. É aquele que tudo reprova, pessimista, que põe em dúvida todas as ideias, propostas e planos, demonstrando sempre uma insatisfação com os colegas, com o bispo, com as transferências de uma paróquia para outra, com o lugar escolhido para o retiro e com o pregador convidado. Este tipo se apresenta, comumente, seja em quantidade ou em qualidade, insaciável. Suas ações são mediadas pelo inconsciente, logo nenhuma solução que se distancie do inconsciente resolverá o problema (MOHANA, 2004).

Em última classificação, emerge o presbítero satanista. O nome parece pesado, no entanto, elucida o comportamento do presbítero que não amadureceu, por exemplo, o significado do celibato. “[...] O não uso do sexo poderá instalar um complexo de inferioridade em naturezas envolvidas por certas circunstâncias ou desprovidas de certas condições” (MOHANA, 2004, p. 118).

Diante desse dilema, o satanista, a pretexto de tudo, demoniza o sexo seja dentro ou fora da ambiência de igreja. O que ele deseja é esconder um problema com o qual receia enfrentar. Além desse comportamento, o padre puritano investe seu tempo em erotizar e condenar todas as ações terceiras como pecaminosas. O satanista poderá tornar- se também um confessor sexocêntrico, agindo como “[...] o impiedoso algoz dos pecadores do sexo, [...] o curioso indiscreto da castidade dos penitentes. Todos podem abster-se de provar a comida, mas não se dispensam de manusear o cardápio” (MOHANA, 2004, p. 119).

O padre satanista ou puritano pode ser equiparado ainda a solteirona complexada que implica com o modo de vestir das sobrinhas, se ocupando em atormentá- las com suspeitas de imoralidade, o uso de roupas curtas, até mesmo mangas e alças, o que revela uma tentativa de vingança inconsciente em razão daquilo que gostaria de ter feito e hesitou (MOHANA, 2004). O que falta no padre satanista, isto é, com escrúpulo em excesso, é a orientação conforme nos apresenta Lorscheider:

Não se pode reduzir o sexo à mera genitalidade. Todas as células do corpo são sexuadas. Com qualquer célula a ciência hoje pode descobrir se ela pertence a um homem ou a mulher. Tal diferenciação genética parece indicar uma finalidade mais vasta que a procriação biológica. Parece indicar mesmo algo para além dos limites do matrimônio. A sexualidade é uma força que perpassa todo o ser humano. Ela pode ser, como todas as nossas forças interiores, positiva ou negativa. É preciso orientar essas potencialidades. Alguém pode renunciar à atuação do sexo genital e hormonal, à procriação e à complementação erótico- afetiva, mas ninguém pode renunciar a ser pessoa, isto é, ser humano ou masculino ou feminino, e a ser sempre mais pessoa pelo diálogo. (LORSCHEIDER, 2007, p.101)

A unidade presbiteral, como outra dimensão importante à saúde, tornou-se desde o período pós-conciliar um tema bastante recorrente na pauta da Igreja, pois constata-se o quanto o individualismo adotado como comportamento das pessoas, compromete a qualidade de vida e missão do presbítero. A ausência da unidade que cede espaço para a onda individualista tem gerado doenças emocionais nos presbíteros. A síndrome de burnout, por exemplo, tem prejudicado a saúde de inúmeros sacerdotes; ela chega cada vez mais cedo, inclusive nos primeiros anos de ministério.

Constata-se a existência não rara de padres estressados, fatigados e desiludidos, que já não conseguem encontrar o sentido da própria missão. Tornou-se comum na sociedade ouvir falar da síndrome de burnout, e entre os presbíteros se diz a síndrome do bom samaritano desiludido. (GODOY, 2012, p. 104)

Tal síndrome demonstra o esgotamento físico e mental de quem se dedica à missão, mas descuida de si, esquece da sua própria humanidade e se reveste de um suposto super-homem do sagrado que não existe, mas que muitas vezes é exigido, cegamente, pela comunidade paroquial e pela mentalidade mágica de que o padre não é ser humano, não tem sentimentos, não cansa, pois antes de tudo ele pertence a Deus. Resultado: o padre adoece, é acometido de síndrome do pânico, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, dentre outras doenças emocionais tão comuns entre o clero e em outros segmentos sociais. Com o advento da pandemia este quadro clínico preocupante invadiu a vida de muitas pessoas, inclusive jovens. Quanto aos presbíteros, reapareceu a síndrome de burnout com suas várias causas, apontadas no Decreto como esmorecimento: “Na verdade, os novos obstáculos que se opõem à fé, a esterilidade aparente do trabalho realizado, e ainda a dura solidão que experimentam, podem leva-los ao perigo do desalento” (PO, n.22).

Entretanto, são crescentes e multifatoriais as causas geradoras da síndrome do bom samaritano desiludido. O padre Manoel de Godoy elenca algumas delas:

Sobrecarga de trabalho, falta de controle sobre si, insuficiente gratificação, redução do sentido de pertença comunitária, ausência de equidade percebida no próprio tratamento, percepção de um contraste entre os próprios valores e aqueles da organização. (GODOY, 2012, p. 104-105)

A formação imbricada no cuidado

Outra inquietação sinalizada pelo Decreto, refere-se ao despertar vocacional. Há sempre formadores e pregadores paralelos na mídia. A presença dos padres midiáticos, comumente de linha neopentecostal conservadora, tem gerado nas comunidades paroquiais e nas casas de formação um modelo de Igreja com o qual muitas pessoas se identificam e o tomam para si como se fosse o único modo de ser Igreja. Ademais, o tempo pandêmico gerou nas pessoas um relaxamento ou uma acomodação espiritual. É preferível ficar em casa e literalmente assistir à santa missa, ainda que não seja possível comungar.

Esse panorama reforça a necessidade de uma releitura do PO, pois em seu bojo está o cuidado com os presbíteros, quanto à administração de si e da missão exercida, o que deverá ser uma prática constante. Ao lado dessa problemática está a dificuldade de formar comunidades, verdadeiramente eucarísticas, quando os fiéis, sobretudo na pastoral

urbana, como visto, não possuem sentido de pertença paroquial. Eles escolhem a missa, a igreja e o padre conforme o gosto, quando o decreto conciliar orienta a construção da comunidade cristã, desenvolvida com esmero através da eucaristia: “Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima eucaristia, a partir da qual, portanto deve começar toda a formação do espírito comunitário” (PO, n.6). Ademais, o decreto recomenda que cada presbítero tenha a consciência de que:

Na edificação da comunidade cristã os sacerdotes nunca servem a alguma ideologia ou facção humana, mas como anunciadores do Evangelho e Pastores da Igreja, trabalham pelo aumento espiritual do Corpo de Cristo. (IDEM, n.6)

É notória, nos seminários, a ausência clara de perspectiva dos formandos quanto ao ponto de partida confundido, não raras vezes, com o ponto de chegada. A ordenação sacerdotal não pode ser o ponto de chegada de um formando, antes é preciso pensar no que fazer com a ordenação alcançada que aponta para a missão configurada no Cristo. A ordenação presbiteral não é ponto de chegada, mas é ponto de partida e o presbítero, embora tenha sido instruído no seminário, precisa de auxílios para conduzir da melhor maneira possível sua vocação iluminada pelo que rege o texto conciliar:

O mesmo Senhor, porém, para que os fiéis formassem um só corpo, no qual “nem todos os membros têm a mesma função” (Rm 12, 4), constituiu entre eles, alguns ministros que, na sociedade dos fiéis possuíssem o sagrado poder de Ordem para oferecer o sacrifício e perdoar os pecados, e desempenhassem publicamente o ofício sacerdotal em nome de Cristo a favor dos homens. (PO, n.2)

Além da falta de clareza acerca da missão presbiteral, outro entrave na formação do clero é a carência de presbíteros para assistir as comunidades. Aqui no Brasil, por exemplo, são 22 mil padres para atender 11 mil paróquias (GODOY, 2012), mesmo assim o número é insuficiente para uma demanda pastoral gigantesca. Isso tem facilitado o ingresso, mas prejudicado a qualidade de formação no Seminário.

A carência de presbíteros tem levado muitas Igrejas a flexibilizar enormemente os critérios de acesso ao ministério presbiteral. Inúmeros problemas e dissabores seriam evitados se o processo de consulta fosse observado com um pouco mais de esmero. (GODOY, 2012, p. 91)

O presbítero, uma vez ordenado, deve ter a lucidez do que vai fazer com o sacramento da Ordem, compreendendo que ele não é propriedade particular sua, mas é oferta para a Igreja de Cristo e seu povo. Em um mundo plural, o padre deverá ser um educador do mistério de Deus, facilitador do encontro das pessoas com Jesus, num clima

de assombro e fascínio ao mesmo tempo. Este mesmo sacerdote tem a missão de conduzir as pessoas à experiência com Deus e à amizade com Jesus. Ele ainda deverá testemunhar a fecundidade da leitura orante da Palavra, da tradição da Igreja, da presença de Cristo na Eucaristia e a importância do domingo para a existência cristã. Ademais, o presbítero do novo milênio interessado em marcar diferença no mundo do pluralismo religioso, deve abandonar o carreirismo por cargos e títulos, abraçando a pobreza e a kenosis de Jesus de Nazaré (DAp, 2007).

O formando, de igual modo, deverá ter clareza acerca dos protagonistas da formação: o Espírito Santo, a Igreja e o próprio formando. Na certeza de que neste certame ele não caminha sozinho, esse protagonismo precisa estar evidente na cabeça das duas partes diretamente envolvidas no processo de formação (formadores e formandos) a fim de que a condução do seminarista não se transforme numa mera etapa protocolar da Igreja, levando-o a ser formado ao seu próprio gosto ou de acordo com o padre que mais se destaca na televisão e nas redes sociais. Pelo contrário, o seminarista de hoje, padre do amanhã, deve reconhecer que não pode ancorar-se em um formador paralelo ao mesmo tempo em que não deve caminhar sozinho. Ele necessita das moções do Espírito que santifica sua vocação, do acompanhamento caritativo do formador e da própria vontade assistida pelo mesmo Espírito Santo, o que Libânio, chama de discernir a vontade de Deus: “Assim temos cinco pilares: aprender a conhecer e a pensar, aprender a fazer, aprender a conviver com os outros, aprender a ser e aprender a discernir a vontade de Deus” (LIBÂNIO, 2002, p. 15). Desse modo, cada seminarista nas diferentes etapas de formação (propedêutico, filosofia, teologia e estágio) precisa se auto indagar, existencialmente, desde cedo: Quem sou? Onde estou? Como estou? Onde quero chegar? Tais perguntas colocarão o formando diante de um protagonismo que, conforme Libânio, desemboca em uma arte:

Que não seja a imposição de uma “fôrma”, mas um processo cujo principal protagonista seja a pessoa do formando, com enorme respeito à sua singularidade, a tudo que já é. Implica da parte dele, forte motivação para assumir esse duro parto de si mesmo. Formar-se é tomar em suas mãos seu próprio desenvolvimento e destino num duplo movimento de ampliação de suas qualidades humanas e religiosas e de compromisso com a transformação da sociedade em que se vive. É modelar livremente a própria vida a fim de participar no processo construtivo da sociedade. (LIBÂNIO, 2002, p.13-14)

Corroborando o mesmo pensamento, Viana sugere que:

A pergunta que em cada formando deve ecoar é: estou eu me autoeducando para a liberdade e para assumir a própria vida, vocação e

missão? Até que ponto desejo ser um discípulo de Jesus, um bom presbítero, um servidor generoso do Povo de Deus? Qual a intensidade desse desejo ou dessa sede? (VIANA, 2015, p.54)

Quando o formando ou sacerdote não sabe onde deseja chegar e de lá partir, qualquer direção lhe será útil. Por isso, PO instiga o presbítero a ocupar-se permanentemente com [...] as virtudes que justamente se apreciam no convívio humano, como

são a bondade, a sinceridade, a força de alma e a constância, o cuidado assíduo da justiça, a delicadeza, e outras que o Apóstolo Paulo recomenda quando diz: “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8). (PO n. 3)

A arte de formar-se associada a bagagem do seminário e aos exercícios espirituais deve ser buscada ao longo da vida presbiteral. Assim, o sacerdote deverá cuidar de si a fim de cuidar do rebanho, ensinando não a própria sabedoria, mas a palavra de Deus, convidando a todos à santidade numa oferta do sacrifício como forma de expiação dos seus próprios pecados e os da comunidade, conforme a carta aos Hebreus (PO, 2002). Esta consciência de quem é o presbítero, como ele está e qual é o seu papel neste mundo, sua missão específica como arauto da Palavra, ao desempenhar seu ofício sacerdotal em nome de Jesus Cristo em favor dos homens, é uma tarefa a ser cuidada e lembrada constantemente.

Compreendendo o apelo de Jesus, “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,15-16), torna-se claro que a missão do presbítero configurado ao mestre, é a evangelização com vistas à santificação do mundo. Tal consciência deverá ser trabalhada desde o seminário e estendida à vida pastoral e paroquial para a qual o presbítero foi formado. A formação presbiteral imersa no pluralismo cultural e religioso requer seriedade e excelência a fim de que o futuro presbítero, se quiser impactar o mundo pela Palavra, na Igreja do século XXI, parafraseando Karl Hanner, deverá ser místico ou não será nada, o que revela a necessidade de a Igreja formar sacerdotes preparados em face dos grandes desafios e das mais atípicas searas da evangelização. Por isso, a CNBB, nos subsídios doutrinais 4, Presbítero anunciador da Palavra de Deus, educador da fé e da moral da Igreja, destaca as principais leituras do Magistério da Igreja a serem aplicadas nos Seminários, recomendando que:

A formação dos futuros presbíteros deve incluir o estudo acurado dos Documentos do Magistério da Igreja, fomentando fidelidade e sincera adesão, incluindo especialmente o estudo e o conhecimento do Compêndio dos Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II,

Catecismo da Igreja Católica, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Código de Direito Canônico, para habituar cada formando a referir-se a estes na pregação, na catequese, no ensino e nos pronunciamentos nos meios de comunicação social. (CNBB, n.4)

As provocações são recorrentes, a necessidade de evangelizar mais urgente ainda. Contudo, esta consciência somente é despertada quando o presbítero recém- ordenado assume a missão, isto é, ao sair do seminário para o campo pastoral. Por mais que o seminarista exerça sua missão nos fins de semana na comunidade ou na semana missionária, sua visão será sempre a de um formando. Somente ao assumir a missão, ou seja, depois de ordenado, ele sentirá o peso da responsabilidade, seja na formação de lideranças, seja na administração paroquial, seja na missão nas grandes metrópoles, no campo ou nas periferias, seja no magistério ou na própria formação de futuros presbíteros. Isso ocorre em razão do sacramento da Ordem. Enquanto formando, ele será visto como alguém que aprende, depois de ordenado como alguém que ensina e logo ele será interrogado e interpelado como se tivesse resposta para todas as indagações humanas. Daí a necessidade do cuidado e da formação permanente.

Conclusão

Diante do exposto, na revisitação do Decreto Presbyterorum Ordinis, conclui-se que: é imprescindível sua leitura e a aplicação de sua doutrina na formação e no cuidado do clero, sobretudo após a ordenação. O tema: cuidado e formação permanentes, fio condutor de todo o artigo, reitera os grandes desafios da formação dos seminaristas hoje, futuros presbíteros. Como vimos, cuidar e formar são termos análogos quanto ao acompanhamento daquele que concluiu o seminário e recebeu o sacramento da Ordem. Portanto, urge que o presbítero seja auxiliado pelo suporte diocesano, através da pastoral presbiteral, chamada aqui de Pastoral do Cuidado, e que cada presbítero zele por si mesmo investindo em seu autocuidado.

Neste sentido, o Decreto Presbyterorum Ordinis apresenta algumas pistas, a saber, para que o padre norteie sua vida pessoal e pastoral: o presbítero, no exercício do seu ministério, evite proceder para o agrado dos homens, mas antes viva de acordo com as exigências da doutrina e da vida cristã; na edificação da comunidade cristã, tenha a consciência de que ele jamais deverá servir a uma ideologia humana, mas se comportar como anunciador do Evangelho; evite o isolamento, pois tal comportamento impede a fraternidade entre os pares, o que requer uma boa relação entre presbíteros jovens e

idosos; o clero reúna-se espontaneamente e com alegria para recreação do espírito, lembrando o evangelho de Mc 6, 31 (Vinde, vós sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco); o padre receba justa recompensa pelo desempenho do cargo que lhe foi confiado. Além disso, goze todos os anos de um certo tempo de férias.

Quanto aos exercícios espirituais, o Decreto recomenda: a celebração cotidiana da santa missa ainda que seja sem a presença dos fiéis; afastar-se de tudo o que for nocivo à missão; dispõe ainda que a habitação do presbítero não se torne inacessível às pessoas, e que ninguém, por mais humilde que seja, tenha receio de frequentá-la; recomenda também a procura frequente do sacramento da penitência, a leitura da Sagrada Escritura e a veneração filial a virgem Maria, bem como a visita ao Santíssimo.

No que se refere à formação, o Decreto fomenta o estudo dos santos Padres e Doutores e os documentos da tradição e do magistério da Igreja, especialmente dos Concílios e dos Sumos Pontífices e os melhores escritores aprovados pela teologia e que os bispos tenham o cuidado de que alguns sacerdotes se dediquem a um conhecimento mais profundo das coisas divinas a fim de que nunca faltem mestres idôneos para a formação do clero.

Portanto, todo o Decreto Presbyterorum Ordinis, como vimos, manifesta desde suas primeiras linhas o desejo de investir no presbítero e em sua missão, consequentemente, renovando a Igreja de Cristo presente na história. Para isso, é imprescindível cuidar do clero a fim de que, preparado, sirva do melhor modo possível o rebanho que lhe foi confiado. Cuidar é uma tarefa de todos: do próprio presbítero, da Igreja e dos fiéis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Edições Loyola, 2000. CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Presbyterorum Ordinis. Editora Paulus, 2002, p. 491-538.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Presbítero, anunciador da palavra de Deus, educador da fé e da moral da Igreja, documentos da CNBB, n. 5, 2010.

C. VIANA, Wellistony. Um longo e belo caminho: um itinerário formativo para seminaristas. Brasília: Edições CNBB, 2013.

CAMPUS, L. A dor invisível dos presbíteros. Petrópolis: Vozes, 2018.


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL SOBRE A FORMAÇÃO DOS SACERDOTES PASTORES DABO VOBIS de João Paulo II. São Paulo: Edições Paulinas, 1992.

FELLER, Vitor Galdino. Ser padre hoje. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2013.

GODOY, Manoel. Presbyterorum Ordinis, texto e contexto. São Paulo: Paulinas, 2012

LIBÂNIO, João Batista. A arte de formar-se. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

LORSCHEIDER, Aloísio. Identidade e espiritualidade do padre diocesano. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

MOHANA, João. Padres e bispos autoanalisados. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

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